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Faculdade de Serviço Social amplia diálogo com a sociedade em tempos de pandemia

Participação dos docentes em uma série de eventos mostra como as discussões e serviços prestados por estes profissionais são ainda mais relevantes no atual momento

“Estar presente, em constante diálogo com a sociedade”, é como a diretora da Faculdade de Serviço Social da PUC-Campinas, Maria Virginia Righetti Fernandes Camilo, justifica a presença de vários docentes em uma série de eventos nos últimos meses. Somente em maio, a diretora participou de dois eventos: da Semana do Assistente Social, organizada pela Secretaria Municipal de Inclusão e Desenvolvimento Social de Hortolândia (SMIDS), em que falou sobre a política de assistência social, reconhecida por decreto nacional como atividade essencial, e sobre o trabalho deste profissional diante dos desafios da pandemia e do estado neoliberal. Já na última semana, dia 19, ela conduziu a palestra on-line “O serviço social em tempos de pandemia”, no Instituto Superior de Ciências Aplicadas (ISCA Faculdades), em Limeira, em que, a partir de reflexões sobre a pandemia, aumento da pobreza e da fome, ela falou sobre a importância da assistência social, setor que mais emprega profissionais, seguido da saúde.

Duas outras professoras da Faculdade de Serviço Social da PUC-Campinas foram convidadas para o I Seminário Internúcleos, da PUC-SP, uma série de encontros que acontecem desde março, todas as terças-feiras e que devem ir até o mês de junho. O tema tratado pela professora Fabiana de Carvalho foi a violência doméstica contra a criança e o adolescente. Segundo ela, é um problema que ocorre em todas as classes sociais, mas que tende a receber mais atenção e análises dependendo da classe social em que ocorre. “Infelizmente é um problema presente em nossa sociedade há muito tempo, mas que tem tido mais destaque na mídia mais recentemente”, disse. “Com a pandemia, percebemos uma queda no número de notificações, mas presumimos um aumento da violência, especialmente pela convivência dificultada pela ausência de políticas públicas mais assertivas, pela diminuição do trabalho e da renda e pela dificuldade do acesso a espaços protetivos para as crianças”, aponta a pesquisadora. Ela menciona, por exemplo, as escolas que costumam ser um espaço de observação e de denúncia, mas que ou estão fechadas ou funcionando parcialmente.

Existem diferentes tipos de violência doméstica, e eles, em geral, aparecem combinados: desde a negligência, caracterizada pela falta ou omissão dos pais ou responsáveis pela proteção e cuidado da criança, até a violência física, a psicológica e a violência sexual. A professora da PUC destacou ainda que o enfrentamento da violência doméstica contra meninos enfrenta um desafio maior, a questão da invisibilidade, especialmente no caso de violência sexual. “Alguns fatores culturais corroboram o ocultamento da vitimização sexual do menino, como, por exemplo, uma compreensão do fato como ‘coisa de homem’; uma herança da resistência e da virilidade masculina, por meio de represálias sociais e de questionamentos sobre a masculinidade da vítima”, explicou Fabiana.

A violência doméstica de gênero também foi o tema da palestra de Carla da Silva, que aconteceu no dia 18 de maio. Carla, que dá atendimento a mulheres em situação de violência, falou sobre o autor da violência de gênero. Em sua abordagem, ela destaca a necessidade de atender e escutar o homem, autor desse tipo de violência. Segundo ela, a sociedade tem colocado o homem em um lugar de poder, de herói, de provedor, mas cada vez mais esses papéis têm sido questionados. “A violência está em uma brecha entre o que se espera do homem e o que ele consegue fazer, ela surge como um desvio, por uma incapacidade do homem de manejar o poder que lhe é atribuído. Ele aprendeu que a violência é o caminho para expressar

descontentamento e frustração”, acredita a assistente social. Para ela, é preciso desenvolver um olhar para a masculinidade, reconstruí-la e entre as estratégias para isso estão a participação desses homens em grupos de reflexão e a escuta qualificada que permita conhecer a sua história.

No dia 14 de maio, a gerontóloga e professora da PUC-Campinas, Jeanete Liasch Martins de Sá, participou da I Semana Interprofissional da UNIFESP Baixada Santista, promovida por alunos e professores do Instituto Saúde e Sociedade. Foi um Painel sobre sedentarismo na velhice, com profissionais de várias áreas. Ela falou sobre sedentarismo na velhice como questão de saúde pública, cujo combate passa pela proposta de envelhecimento ativo, pelas políticas públicas, pelo trabalho interdisciplinar e intersetorial, pelo trabalho em rede e pelo protagonismo do idoso”, disse.

Indicadores de idosos sedentários são muito altos e a pandemia agravou ainda mais esse quadro. Entre as causas do sedentarismo estão problemas de saúde, problemas emocionais, falta de acesso a equipamentos para atividades físicas, falta de motivação, políticas públicas ineficientes. Segundo ela, a solução passa pelo conceito de envelhecimento ativo e saudável. “Envelhecimento ativo é o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas”, disse Jeanete. Para ela, as políticas públicas são fundamentais para amenizar o sedentarismo na velhice, mas elas têm que ser construídas em uma abordagem intersetorial, envolvendo várias instituições, estabelecendo uma rede colaborativa para combater o sedentarismo do idoso. “Finalmente, é imprescindível considerar o protagonismo do idoso. Não temos que fazer para o idoso, mas com ele, estimulando a sua participação enquanto sujeito de direitos e enquanto cidadão e evitando um tipo de participação tutelada nas ações de combate do sedentarismo”, disse.

O assistente social tem como competências e atribuições não só a prestação de serviços diretos à população. Ele também atua em planejamento, gestão e produção do conhecimento. Para a diretora da Faculdade de Serviço Social da PUC, a pandemia traz ainda mais desafios para esse profissional. “Temos visto aumento dos casos de violências contra a mulher. O envelhecimento com pandemia traz isolamento de pessoas queridas, a convivência que alimenta afetos, cuidado, relação de troca entre gerações”, lembra Maria Virginia. “O assistente social precisa analisar a realidade da violência nos grupos etários, nas relações de gênero, agravada pela questão da desigualdade de classe e pela questão étnico-racial, um desafio ainda maior em um cenário de cortes de gasto no orçamento na área social”, finaliza a diretora.

Por Patricia Mariuzzo



Marcelo Andriotti
3 de junho de 2021