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Cuidar do solo para a floresta crescer

Pesquisadoras do Programa de Pós-Graduação em Sistemas de Infraestrutura Urbana analisam atributos físicos do solo como indicadores de degradação em dois fragmentos florestais de Campinas

Por Patricia Mariuzzo

Tudo começa pelo solo. É ele que fornece os nutrientes necessários ao crescimento vegetal, permite a movimentação e a retenção da água, mantém a biodiversidade de microrganismos necessários à decomposição de detritos orgânicos e ciclagem de nutrientes, entre outras funções ecológicas. Assim, em qualquer programa de recuperação ambiental, o primeiro passo é conhecer o nível de degradação do solo para, então, fazer correções e iniciar os processos de recuperação, seja por revegetação, seja para a implantação de corredores ecológicos. Foi com esse enfoque que a engenheira agrônoma Regina Márcia Longo, docente e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Sistemas de Infraestrutura Urbana da PUC-Campinas, coordenou uma pesquisa que teve como objetivo analisar a degradação física do solo nas áreas de borda de dois fragmentos florestais localizados na Bacia Hidrográfica do Ribeirão Anhumas.

“Entender o nível de degradação que um solo se encontra faz, portanto, com que as medidas adotadas sejam eficientes para garantir o sucesso ambiental do processo de recuperação, tanto em termos técnicos quanto em relação à viabilidade econômica, uma vez que diminuirá a necessidade de ações repetitivas, o que muitas vezes encarecem e inviabilizam a recuperação ambiental”, afirmou. Os resultados da pesquisa foram publicados na última edição da revista Ciência Florestal, da Universidade Federal de Santa Maria.

O estudo foi feito em trechos da Fazenda Anhumas – que fica próxima do centro do Distrito de Barão Geraldo – e da Fazenda Argentina – localizada ao lado do campus da Unicamp – que compõe o território do Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS). O processo de planejamento do hub inclui um diagnóstico ambiental para o qual esse estudo da PUC-Campinas deve contribuir.

Os dois fragmentos florestais pertencem ao Corredor Ecológico Mata Santa Genebrinha-APP Ribeirão Anhumas, instituído pela Prefeitura de Campinas em 2016. Com 11 quilômetros, esse corredor é parte de um projeto maior, que visa ligar a Mata de Santa Genebra, perto da divisa com Paulínia, com a Mata Ribeirão Cachoeira, em Sousas. Por conta da expansão urbana sem planejamento, a Bacia do Ribeirão Anhumas é uma das mais degradadas de Campinas, com problemas ambientais, como desmatamento das matas ciliares, perda de biodiversidade, descarte inadequado de efluentes e contaminação hídrica. Diante desse contexto, as análises físicas do solo conduzidas pelas alunas da PUC-Campinas, Gabriela Manente Rocha, Joice Machado Garcia e Alessandra Leite da Silva, não surpreenderam: ambos os remanescentes se encontram em estágio de degradação avançado.

Para chegar a esses resultados, as pesquisadoras analisaram índices físicos dos solos, como densidade, umidade, porosidade e grau de saturação, além do Índice de Área Foliar (IAF) e do Índice de Avermelhamento do Solo (IAV). Por exemplo, quando o solo tem densidade muito alta há redução na porosidade e na infiltração de água, o que dificulta o estabelecimento da cobertura vegetal em processos de revegetação. De acordo com as pesquisadoras, práticas inadequadas de manejo do solo podem resultar em compactação e aumento da densidade. Os dois remanescentes analisados estão degradados, mas os parâmetros físicos da Fazenda Argentina estão “menos piores”. “Provavelmente isso se deve ao fato de que o fragmento da Fazenda Argentina está mais isolado em relação às fontes de degradação, como o tráfego de pessoas e máquinas. Como apresentado no estudo, as maiores fontes de pressão nesses remanescentes provêm da proximidade de áreas urbanas e de atividades agrícolas no entorno”, explicou Regina Longo.

Segundo ela, isso não é um fator comprometedor em si, mas um indicador importante a ser considerado na implantação do projeto de um corredor ecológico entre eles. Os resultados indicaram que as áreas de borda dos dois remanescentes florestais em estudo necessitam de ações de recuperação química do solo (por meio de adubação química ou orgânica), a fim de se atingirem níveis de fertilidade que garantam a disponibilidade adequada de nutrientes às espécies vegetais que serão introduzidas e também à recuperação física (promovendo medidas de descompactação do solo) que visem a uma melhor movimentação de água e ar no solo. “Essas e outras medidas importantes, como o controle de espécies invasoras, especialmente em áreas de borda, são essenciais para o sucesso do estabelecimento de um corredor ecológico”, explicaram as pesquisadoras.

Ver e valorizar – Há cerca de uma semana, um incêndio na Mata Santa Genebrinha consumiu quase cerca de 40 mil metros quadrados de mata. “Esses incêndios podem ser minimizados com medidas como o estabelecimento de aceiros (faixas de desbaste de vegetação que evita que o fogo se alastre), a proibição e fiscalização do lançamento de resíduos sólidos que, muitas vezes, podem ser inflamáveis, além do trabalho de educação e conscientização ambiental em crianças e adultos”, pontuou a professora da PUC-Campinas.

Localizados às margens ou em meio a áreas intensamente urbanizadas, esses remanescentes florestais muitas vezes não são notados, no cotidiano, pelas pessoas que vivem nas cidades. “Quando são notados, muitas vezes são vistos como áreas sem função econômica que poderiam ser substituídas por outras atividades. Nesse sentido, os trabalhos de pesquisas a respeito da relevância e da necessidade de recuperação e preservação dessas áreas, e sua divulgação nos meios de comunicação acessíveis à sociedade, em diferentes mídias, podem auxiliar muito na conscientização da população acerca da importância dos remanescentes florestais para a sociedade”, finalizam as pesquisadoras.



Vinícius Purgato
13 de outubro de 2020