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Descumprimento de cotas para PCDs cresce 45% em Campinas

 Dados reforçam a importância da luta da pessoa com deficiência; professor da PUC-Campinas fala em mudança cultural da sociedade como forma de reverter o quadro

A inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, ainda que transformada em lei há quase três décadas, continua enfrentando barreiras. Em Campinas (RMC), de acordo com dados apurados junto ao Ministério Público do Trabalho (MPT), houve um aumento de 45%, entre 2016 e 2018, nos procedimentos instaurados contra empresas que descumprem as exigências legais.

De janeiro a dezembro de 2016, foram realizadas 11 intervenções – que incluem acordos para o ajustamento de conduta e também ações civis públicas –, enquanto, em 2018, até o mês de agosto, já foram registrados 16 casos. No período analisado, levando em consideração toda a Região Metropolitana de Campinas (RMC), existe, até o momento, um decréscimo de quase 22% nas ocorrências.

Para Carlos Marshal França, professor de Recursos Humanos (RH) da PUC-Campinas, a questão do descumprimento da lei é complexa e envolve uma série de variáveis, como o segmento no qual a empresa atua, a complexidade das atividades que são desenvolvidas pelos funcionários, além da oferta efetiva de profissionais com deficiência. “É imprescindível evitar a generalização”, ponderou.

Contudo, o docente defende que a mudança de mentalidade da sociedade como um todo é o que pode provocar, com os anos, uma reversão deste quadro. “O primeiro passo é reconhecer a diversidade como uma fonte de vantagem competitiva, como uma oportunidade para gerar valor para as empresas, para a sociedade e para as pessoas”, destacou.

Para interromper este ciclo de desigualdade, e assumir uma posição de colaboração frente aos desafios impostos às políticas públicas, o CIAPD – Centro Interdisciplinar de Atenção à Pessoa com Deficiência, vinculado à Pró-Reitoria de Extensão da PUC-Campinas, atua há 27 anos na capacitação e inclusão de pessoas com deficiência (PCD).

Mais de 8 mil pessoas já foram beneficiadas com as atividades promovidas no local – como oficinas de empreendedorismo, orientação de carreira, geração de renda etc., e cerca de 200 empresas da RMC receberam cooperação técnica para adequar suas operações à chegada de PCDs.

Inserção

Em uma dessas parcerias, o auxiliar de produção Rodrigo de Lima Francisco, 36, que apresenta um quadro de deficiência intelectual, foi inserido ao mercado, em 2005, na TORMEP, empresa de tornearia mecânica localizada em Campinas. Responsável pelo RH da organização – que não é obrigada por lei a contratar PCDs, uma vez que possui menos de 100 funcionários –, Marcus Flávio Giardiello exalta a contribuição das oportunidades para a vida de cada indivíduo.

“O Rodrigo evoluiu muito ao longo dos anos. Chegou um pouco tímido, mas se adaptou e hoje faz amizade com todos. As empresas têm papel crucial nesse desenvolvimento, contribuem para elevar a autoestima deles. Sem contar que o Rodrigo é um ótimo profissional”.

Há 13 anos ininterruptos na empresa, Rodrigo afirma que se fortaleceu com o emprego, tendo autonomia para conquistar certa liberdade. “Hoje eu ganho meu próprio dinheiro, venho e volto para o trabalho sozinho, faço muitos amigos. Acho que todas as empresas deveriam dar essa chance”, finalizou.



Vinícius Purgato
21 de setembro de 2018