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Campanha da Fraternidade 2020

Tema: “Fraternidade e vida: dom e compromisso”

Lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”

 
CUIDAR: AÇÃO OU MODO DE SER?
O cuidado é uma ação quando se admitem duas atitudes interligadas: atenção e dedicação ao outro. Alguém manifesta que sabe cuidar por meio da atenção às necessidades dos outros. Jesus explica e ensina isso quando lhe perguntam: “Quem é o meu próximo?”. A urgência de ir ao encontro de quem precisa está claramente na Parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37), escolhida como referência para a Campanha da Fraternidade 2020 (CF 2020). Próximo não é somente alguém que está ao meu lado, mas aquele do qual me aproximo para ajudá-lo. Essa tomada de posição de cuidado manifesta a atenção ao ver, compadecer e cuidar.
A noção do “cuidado” e do “cuidar” que a CF 2020 propõe não se reduz à via de uma ação da programação técnica e profissionalizante ou, ainda, como consequência de uma gestão de recursos que tem como decorrência a assistência a todo tipo de desamparo como finalidade, do mesmo modo que não se limita a noção do “cuidado” à busca de bem-estar, a partir da administração pragmática dos bens comuns, do trabalho, da cultura, da educação enquanto empresa e gestão, embora tais preparos e aspectos sejam indispensáveis, porque auxiliam no ato de cuidar.
A CF 2020 aponta para um ir além das boas intenções, das práticas de estancar carências pontuais como uma reação a um ato de bondade. Trata-se de alcançar um princípio que tem uma implicação direta no modo de ser.
Ser cuidadoso não significa controlar, mas ter a capacidade de perceber os movimentos que existem ao nosso redor. As relações dos seres humanos entre si e a sua interação com o meio dependem da acolhida do mistério do humano como imagem de Deus e da dignidade da vida humana. A arte de cuidar depende do olhar que se lança sobre o outro e sobre a realidade. Cuidar do humano é um ato divino, pois quando o humano manifesta seu interesse pelo outro, pelo cosmos e age de modo cuidadoso torna-se mais semelhante ao Criador.
Teologicamente, podemos nos basear na afirmação de que Jesus Cristo é a “imagem e semelhança de Deus” (Cl 1,15), portanto é o referencial da representação revelada de Deus, isto é, por meio de suas palavras e ações que se pretende referenciar o “cuidado” como “modo de ser”.
A alusão de que por Jesus Deus trouxe a salvação e a vida a este mundo, por meio da sua própria humanização, é um caminho que contribui para quem deseja realizar o mesmo itinerário do despertar para o cuidado.
Outro aspecto importante em termos de cuidado é considerar o ambiente, o meio em que isso acontece, que é sempre compartilhado, coletivo, familiar, comunitário, social, porque o que se considera não é o indivíduo, mas as pessoas. Então, o cuidado que é oferecido por Jesus é resultado de um ambiente, de um clima social, não de indivíduos solitários, mas de pessoas que estão e se sentem vinculadas. É possível notar nas Bem-Aventuranças a atenção para esse aspecto, evidenciando que Jesus não aponta para o singular, para a felicidade do indivíduo, mas para o plural, para o grupo. Jesus não diz “bem-aventurado o pobre”, mas “bem-aventurados os pobres”, e assim sucessivamente.
Passa-se de um modelo voltado para cumprir nossos deveres para um modelo voltado à necessidade dos outros e ao cuidado para com estes.
É a passagem de uma ética do dever para uma ética do cuidado. Do dever bem cumprido e que nos deixa com a consciência tranquila, como se tivéssemos agido sobre uma situação de modo mais eficaz e suficiente, o que até provocaria uma sensação de tranquilidade e de “dever cumprido”, para o cuidado, “modo de ser”, que é mais exigente, demanda mais tempo, liberdade, envolvimento, compromisso e capacidade de agir em conformidade com Deus e não com base no poder e na superioridade.
As religiões, especialmente a cristã, têm, na sua origem e fundamento, o cuidado com a vida em todas as suas dimensões.
“Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10, 10).
Pe. Antônio Douglas de Moraes
Pároco da Paróquia Universitária Santo Tomás de Aquino
PUC-Campinas
Arquidiocese de Campinas



Marcelo Andriotti
11 de março de 2020