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Soluções tecnológicas de baixo custo dão apoio às crianças deficientes para a superação de barreiras

Os projetos voltados para a inclusão são desenvolvidos por estudantes que participam dos Projetos de Extensão da PUC-Campinas

 

Por Sílvia Perez

 

Investir na promoção da saúde, do bem-estar e da educação na infância são fatores fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa no futuro, uma vez que diversas pesquisas científicas apontam que a primeira infância é uma fase decisiva na formação da personalidade e constituição da pessoa.

Crianças que nascem ou desenvolvem alguma deficiência precisam ainda mais de um olhar direcionado para o atendimento às suas necessidades. Dados divulgados pelo último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o Brasil possui cerca de 45 milhões de pessoas com pelo menos uma deficiência, o que representa aproximadamente 24% da população.

A Profa. Me. Maria Valéria Corrêa e Castro Campomori, docente da Faculdade de Fisioterapia da PUC-Campinas, explica que em Pediatria e Neuropediatria são vários os casos que se podem admitir como “especiais” e que para casos específicos é indicado o uso das tecnologias assistivas. “Alguns exemplos são as órteses de posicionamento para membros superiores e inferiores, cadeiras de rodas, adaptações do mobiliário domiciliar e escolar, além do favorecimento do correto posicionamento corporal para a criança sentar-se, alimentar-se, dormir, entre outras atividades, destacando, a intervenção multiprofissional”, diz.

Segundo o Censo de 2010, a deficiência visual foi a que mais incidiu sobre a população, aproximadamente 35 milhões de pessoas declararam ter dificuldade para enxergar, mesmo com o uso de óculos ou lentes de contato, o que equivale a 18,8% da população brasileira. Desse total, por volta de 6,5 milhões de pessoas apresentaram deficiência visual severa, sendo que 500 mil eram cegas (0,3% da população) e seis milhões tinham grande dificuldade para enxergar (3,2%). Em segundo lugar, está a deficiência motora, ocorrendo em 7% da população, seguida da deficiência auditiva, em 5,10%, e da deficiência mental ou intelectual, em 1,40%.

As dificuldades e limitações enfrentadas por essa parcela da população contribuem de forma significativa para a exclusão social. No entanto, os avanços tecnológicos permitem o desenvolvimento de tecnologias assistivas que dão apoio para as pessoas com deficiência. O entrave fica por conta do alto custo para o acesso a essas ferramentas eletrônicas, o que dificulta a popularização destas soluções para as instituições de apoio aos deficientes.

Este cenário, que poderia ser desanimador, se revela como uma boa oportunidade para o desenvolvimento de sistemas eletroeletrônicos e artefatos de baixo custo, que buscam promover a superação das barreiras digitais e sociais, especialmente quando projetados para a construção e uso por técnicos especializados de instituições de apoio aos deficientes, e é exatamente esse o foco de trabalho de alguns dos 35 Projetos de Extensão que estão sendo realizados por professores e alunos da PUC-Campinas para o biênio 2018/2020.

Um desses projetos está criando uma ferramenta para desenvolvimento visual, motor e cognitivo do deficiente, trabalhando nas questões visuais e sensoriais dos assistidos, e tem Lucas Correa de Souza, estudante do sexto período de Engenharia de Telecomunicações, como o responsável pelo desenvolvimento da solução. “São pequenas caixas iluminadas internamente, com formas e letras dispostas de maneira lúdica, que chamamos de filtros, nas quais controlarmos a quantidade e a cor a ser projetada, o que permite aos profissionais trabalharem um pouco melhor suas atividades. Elas também possuem o que chamamos de feedback, que são as respostas por meio de som e vibração às atividades realizadas”, explica o estudante.

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Na orientação do projeto está o professor extensionista Dr. Amilton da Costa Lamas, experiente quando o assunto é criar soluções tecnológicas de baixo custo voltadas para a inclusão e direcionadas para as entidades parceiras da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade, a qual atualmente mantém parceria com cerca de 44 entidades sediadas na Região Metropolitana de Campinas que prestam serviços diretamente a, aproximadamente, dezessete mil pessoas e, indiretamente, a mais de um milhão de pessoas.

Para o docente, este tipo de projeto traz diversos benefícios. “A grande contribuição que o Projeto de Extensão dá é primeiro evidenciar que a Universidade está cumprindo seu papel de trazer a informação e contribuir para uma sociedade melhor. A instituição parceira se beneficia das contribuições por meio dos conhecimentos técnicos, das especificidades que cada um tem dentro da Engenharia. E para o aluno, a maior contribuição é fazê-lo procurar soluções em que ele pode usar o conhecimento adquirido dentro e fora da Universidade para construir um conhecimento que lhe permita dar um retorno para a sociedade”, explica o docente.

Outro fator é a solidariedade, despertada no aluno do 3º ano da Faculdade de Engenharia Elétrica da PUC-Campinas, Daniel Guimarães, quando, no início deste ano, ele acompanhou o professor Lamas em uma visita a um Centro de Reabilitação Intensiva, que atua no tratamento de reabilitação para crianças com deficiências físicas incapacitantes, motoras e sensório-motoras em Campinas. Nesse dia foi difícil não se emocionar.

Ver crianças em seus primeiros anos de vida buscando, de alguma forma, superar suas limitações sensibilizou o estudante e o motivou a se tornar voluntário em um projeto que prevê soluções para viabilizar o uso de um carrinho nas terapias com crianças portadoras de paralisia cerebral e possibilitar que elas tenham um pouco de independência.

O desafio, segundo o estudante, foi pensar “fora da caixa” para adaptar o carrinho, já que a ideia inicial de propor uma solução de engenharia elétrica teve que ficar em segundo plano, devido à necessidade imediata do uso do equipamento. A saída encontrada, então, veio da engenharia mecânica. E o resultado na prática já enche os olhos do futuro engenheiro. “É muito gratificante, a gente sonha em ser engenheiro, em fazer grandes coisas, mas quando pode ajudar crianças que nasceram com alguma dificuldade, renova o amor que a gente tem pela profissão”, afirma Guimarães.

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De acordo com Marina Junqueira Airoldi, fisioterapeuta responsável pelo Centro de Reabilitação Therapies, o carrinho adaptado motorizado pode contribuir no desenvolvimento da criança com mobilidade reduzida. “É comprovado cientificamente que quando essa criança com mobilidade reduzida é exposta desde o início à possibilidade de participar, ela vai ter benefícios no desenvolvimento motor global e dos aspectos cognitivos”, afirma.

A terapeuta ocupacional da Therapies, Alessandra Montoan Monico, reforça que, além do ganho no desenvolvimento motor, o aumento da autonomia da criança se reflete também na confiança. “Parece ser uma coisa muito pequena, mas não é, quando uma criança se sente capaz, isso é um estímulo para ela ser capaz em outras coisas.  Esse ganho de confiança é muito importante, porque se ela fica só no ‘não consigo’, as coisas não dão certo, a frustração é muito ruim, então quando os ganhos acontecem, ela se sente motivada e essa motivação vai para todas as áreas”, diz.

Outro ponto de destaque é o olhar humanizado que traz para os alunos do Curso da área das Ciências Exatas. “Se você olhar qual é a expectativa que o mercado tem para um formando de Engenharia para o ano de 2025, o mercado quer um indivíduo que consiga utilizar o seu forte background técnico e, ainda assim, trabalhar em situações com pessoas que têm diferentes recursos cognitivos, com maiores e menores limitações. Ele tem que saber lidar com gente, você nunca vai ficar dentro de um laboratório, você vai conversar com pessoas. E o Projeto de Extensão traz essa oportunidade para o aluno, inclusive de fazer gestão de conflito, porque você entra em uma roda de conversa, em que tem várias pessoas com diferentes visões daquilo que está sendo feito, então torna bem mais humano. As experiências que temos tido nos últimos anos apresentam momentos que são muito emocionantes”, destaca o professor.

O sentimento de satisfação pelo trabalho realizado junto às instituições também é partilhado pelo estudante Lucas Correa de Souza. “A sensação é de que estamos cooperando diretamente com a sociedade, com o trabalho de compartilhamento de conhecimentos e de resultados nas rodas de conversa. É muito satisfatório ver algo que você participou da concepção e construção sendo utilizado como uma ferramenta de apoio a esses tratamentos, é sensibilizador”, finaliza.

Fonte: Jornal da PUC-Campinas



Silvia Perez de Freitas
24 de setembro de 2018