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Professores criticam a prática de copiar textos da internet sem dar o crédito ao autor

A polêmica sobre o uso da internet como ferramenta educativa continua acirrando os ânimos de educadores. Se, por um lado, o uso da rede permite o acesso à pesquisa e a aquisição de conhecimento, por outro aguça no usuário o desejo de cometer uma prática criminosa: o plágio. Para os especialistas em educação, essa dualidade no perfil da web justifica-se pela sua própria natureza. “A internet é uma sociedade anarquista, onde cada um é livre para fazer o que quiser”, analisa o professor José Oscar de Carvalho, da Faculdade de Engenharia de Computação.
Como a barreira econômica deixou de ser a vilã para boa parte dos consumidores, que podem comprar um computador pela oferta de crédito ou usá-lo em lan house, trabalho, bibliotecas, universidades e outros locais públicos, cresce o acesso à internet. No mundo virtual, a lei de oferta e procura funciona muito bem, fazendo com que a febre da web não tenha prazo para acabar.

“Os alunos, de maneira geral, não sabem fazer distinção nos conteúdos oferecidos pela internet e acabam cometendo erros nas suas escolhas”, explica o professor José Oscar. “Muitos desconhecem, por exemplo, que há sites de comunicação científica, além dos de busca, normalmente usado pelos estudantes.” Cabe ao professor, na sua opinião, mostrar ao aluno os caminhos corretos para o uso da internet. “Não podemos negar os benefícios dos avanços tecnológicos, mas também não devemos deixar os alunos usarem a internet sem filtros ou limites”, avalia. Para conter o plágio, ele mantém-se atento na correção dos trabalhos. “Tenho artifícios para identificar o plágio”, revela.

O professor Samuel Mendonça, coordenador do Núcleo de Pesquisa e Extensão do Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CCHSA), concorda com o colega. “O plágio existe pela ausência de responsabilidade de alguns estudantes com a sua própria formação e também pela falta de rigor na correção de trabalhos, por parte de alguns docentes”, avalia.

Pesquisa exige elaboração de ideias
A diretora da Faculdade de Educação, Luzia Siqueira Vasconcelos, acompanhou a chegada da internet às salas de aula e sabe que, bem usada, a web pode tornar-se uma aliada no processo de ensino-aprendizagem. “O problema não está na tecnologia em si, mas sim no uso que fazemos dela”, avalia. Para a diretora, quem insiste na prática de copiar textos da internet sem dar crédito ao autor está deixando de aprender. “Nesse caso não há uma formação efetiva, mas sim uma ‘copiação’, que é uma prática prejudicial na elaboração de ideias”. Segundo ela, o processo de aprendizagem deve passar pelas etapas da leitura e seu registro. Na sequência, o aluno deverá refletir o que leu e comparar as ideias do autor a de outros pesquisadores. “Só depois de passar por essas fases o estudante poderá se utilizar da fala do outro, e sempre dando o crédito”, explica.
Para combater o plágio, a diretora iniciou nos últimos anos um trabalho de conscientização com seus alunos sobre o uso da internet nos trabalhos acadêmicos. A tática deu certo e o curso registrou uma queda de cópias ou citações sem identificação de fontes nos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) dos alunos, do ano passado. “Citar a fala de alguém é possível, mas apropriar-se indevidamente das ideias dos outros é crime”. O alerta foi dado: quem insistir no plágio responderá academicamente pela prática.

Incomodado com a prática do plágio, o Centro de Economia e Administração (CEA) decidiu implantar uma tecnologia que rastreia os trabalhos acadêmicos com sinais de plágio. “Estamos desenvolvendo ferramentos para inibir a ação do plágio entre nossos alunos”, explica o diretor do Centro de Economia e Administração (CEA), Eduard Prancic. Para ele, o plágio impede que o aluno conquiste sua autonomia intelectual, fundamental para que ele seja respeitado e reconhecido no mercado de trabalho. “Por isso temos que combater qualquer prática que desabone a conduta dos estudantes”, completa.

O estudante Renato Olegário, da Faculdade de Análise de Sistemas, conhece bem as tecnologias disponíveis na web, mas admite não plagiar em seus trabalhos acadêmicos. “Não quero correr o risco de ser pego por um plágio, porque sei que isso pode riscar minha imagem”, explica. Apesar de ser um usuário fulltime da rede, ele diz que complementa seu conhecimento com a leitura de revistas de TI (Tecnologia da Informação) e jornais.

A estudante Vanessa Calixto, da Faculdade de Relações Públicas, revela que costuma copiar trechos de textos da internet na elaboração de seus trabalhos acadêmicos. “Mas sempre dou o crédito ao autor”, enfatiza. Para ela, quem copia o texto da internet na íntegra, sem interpretar e opinar sobre o assunto, deixa de aprender.

Beatriz Ferreira, do curso de Turismo, aprendeu que nem tudo é confiável no mundo virtual. “A internet é mais uma fonte de pesquisa, mas não a única. Por isso, não arrisco copiar textos da rede sem checar as informações com outras fontes”, diz.

Pesquisador alerta sobre uso da web
As novidades tecnológicas da web saem diretamente dos laboratórios para as ruas com a proposta de ampliar a participação do público na rede. As ofertas são tentadoras, principalmente para os consumidores que buscam conhecimento (sites de busca, bancos de dados), negócios (e.commerce) ou entretenimento e relacionamento (Orkut, Twitter, Facebook, Youtube, blogs e chats). Para o professor Artur Araújo, da Faculdade de Jornalismo, a liberdade de expressão da web tem lá suas falhas. “Como não há um padrão de qualidade rigoroso na rede, nem tudo que ela disponibiliza é confiável”, alerta. “É preciso ter cuidado na hora de usá-la”.

Quem quer mostrar sua cara na rede também precisa ter alguns cuidados. “A rede é um mercado livre, que pode levar o internauta a se mostrar indevidamente”, diz ele. Para fugir de armadilhas, o professor recomenda que se façam, simultaneamente, pesquisas on line e off line, sempre procurando fontes confiáveis e de excelência. “Para evitar o plágio é preciso que o internauta se pergunte o tempo todo o que é seu e o que é do outro”, explica. E, por fim, ele recomenda que o internauta seja crítico com os conteúdos da rede.

“Temos um mundo que fala muito, mas tem pouco a dizer e precisamos ser rigorosos na busca pela qualidade, não nos deixando levar pelo conforto que, aparentemente, a rede oferece. A preguiça pode inibir nossa capacidade intelectual”, alerta.



Portal Puc-Campinas
5 de março de 2009