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O desafio de estar na linha de frente da pandemia

Força-tarefa PsicoVida elabora cartilha para ajudar trabalhadores da saúde a lidar com stress

A pandemia impõe uma série de mudanças no comportamento e na rotina de todos, com grandes implicações sociais, como o distanciamento social, que demanda ficar longe do ambiente de trabalho, dos amigos e de familiares. Mas, no caso dos trabalhadores da saúde, o impacto é bem maior. A sobrecarga de trabalho, a exposição contínua à contaminação pelo coronavírus no ambiente hospitalar e os cuidados redobrados em relação às medidas de distanciamento social elevam os riscos de esses profissionais apresentarem reações de estresse e ansiedade. Com o objetivo de ajudá-los a elaborar estratégias para enfrentar a situação de crise pela qual estamos passando, a força-tarefa PsicoVida elaborou a Cartilha de Enfrentamento do Estresse da Covid-19 para trabalhadores da saúde. O material está disponível em português e em espanhol.

O estresse é resultado de um desequilíbrio entre as demandas que temos e os recursos que utilizamos para responder a elas. Esse balanço varia de pessoa para pessoa, o que explica porque algumas pessoas entram em exaustão e outras não diante de uma mesma carga de trabalho. No entanto, quando nos sentimos estressados e ansiosos é comum a todos dar respostas involuntárias a determinadas situações, como o coração acelerar, suar muito, ficar com tontura, ter crises de choro, sentir-se paralisado. “Podemos ter pensamentos repetitivos, que invadem nossa mente de forma automática, atrapalhando fazer as atividades cotidianas, como conseguir dormir ou prestar atenção em algum assunto ou nas atividades de trabalho”, explica Sônia Regina Fiorim Enumo, docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUC-Campinas  que compõe a força-tarefa PsicoVida.

Médicos, enfermeiros, técnicos, especialmente os que atuam nos hospitais, estão habituados a trabalhar em situação de stress. No entanto, a pandemia impõe situações extraordinárias no contexto hospitalar. “O risco de contaminação é muito maior em uma pandemia; o contato, durante 8, 12, às vezes durante 24 horas, com os pacientes com covid faz com que o ritmo e a intensidade do trabalho sejam ainda mais exaustivos. Esses profissionais têm, ainda, que administrar a ausência da família dos pacientes pela impossibilidade de visitas e suas perdas pessoais pela doença, como familiares e colegas da equipe”, explica Sônia.

Não é incomum, portanto, que os profissionais na linha de frente do tratamento da covid-19 passem a ter sentimentos de desconforto, como receio de transmitir a doença para amigos e familiares; dificuldade em lidar com equipes de atendimento e com os pacientes, preocupação em ser excluído por ser associado à doença.

A adoção de comportamentos adaptativos é fundamental para lidar com essas situações. Algumas das sugestões apontadas pela Cartilha são fazer exercícios de respiração, meditação e relaxamento, por exemplo. Isso ajuda na concentração, a pensar de forma mais clara e a controlar algumas respostas involuntárias diante do stress, como o aumento dos batimentos cardíacos. Fazer chamadas de vídeo para pessoas significativas ajuda no bem-estar emocional. A empatia e a compaixão também ajudam a aliviar o estresse.

Outra orientação é compartilhar as emoções. “Muitos profissionais perderam familiares e amigos pela doença; outros tiveram a doença e, depois de passado o período de licença, retomam à rotina de trabalho, o que gera medo e insegurança. Compartilhar emoções pode ser uma ótima maneira de os profissionais compreenderem e gerenciarem essa situação”, aconselha Sonia.

A Cartilha traz ainda pranchas de comunicação alternativa para ajudar os profissionais de saúde a se comunicar com pacientes internados e impossibilitados de falar. Elas trazem ilustrações com representações de objetos, ações como ir ao banheiro e comer, partes do corpo para o paciente indicar onde está doendo, sensações como coceira, tontura ou cansaço e uma escala de dor. O material foi criado por um grupo multidisciplinar da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que também compõe a força-tarefa PsicoVida. “Essas pranchas ajudam bastante médicos e enfermeiros na comunicação com pacientes que serão ou estão entubados, como deficientes auditivos ou qualquer outra pessoa com problema de comunicação, e também em isolamento”, explica Sonia. Segundo ela, a ideia é oferecer essa ferramenta para hospitais e profissionais que buscam melhorar a comunicação com os pacientes.

A duas versões da Cartilha podem ser acessadas clicando aqui (português) 
e aqui (espanhol)

Por Patricia Mariuzzo



Marcelo Andriotti
25 de junho de 2020