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Massa salarial na RMC pode sofrer redução de R$ 857 milhões com flexibilização de jornada de trabalho 

Estimativa mensal considera adesão de 70% das empresas às medidas de proteção ao emprego durante a pandemia; medida é válida por 3 meses

A Medida Provisória 936, anunciada pelo governo brasileiro para conter os danos do coronavírus (covid-19) sobre o mercado de trabalho, incidirá de maneira negativa na massa salarial da Região Metropolitana de Campinas. Nos 20 primeiros dias, quando 8% das empresas já haviam aderido ao programa de flexibilização de jornada, o impacto sobre os salários superava R$ 100 milhões. Caso 70% das empresas adotem a mesma estratégia, seguindo a estimativa do governo federal, o montante pode chegar a R$ 857 milhões por mês, atingindo mais de 640 mil trabalhadores. Em números absolutos, a massa salarial da RMC, que atualmente se aproxima de R$ 3 bilhões, cairia para R$ 2,1 bilhões (-29%).

A flexibilização, criada para proteger simultaneamente empresas e empregados diante da queda de demanda associada ao enfrentamento da pandemia, interfere de modo distinto na renda dos brasileiros: seja qual for a redução de jornada – 25%, 50% ou 70% –, os impactos serão refletidos mais intensamente nos maiores salários, cujo valor do seguro desemprego pago pela União não compensa a diminuição salarial. Por exemplo: um funcionário que ganha R$ 4.000,00 passará a receber, se reduzida sua jornada em 50%, R$ 2 mil da empresa e R$ 906,52 do governo, tendo sua remuneração diminuída para R$ 2.906,52 (-27,3%).

Em outras palavras, as perdas serão sentidas de forma expressiva pelos profissionais com maior nível de escolarização, como os concluintes do Ensino Médio e do Ensino Superior, que recebem em média, respectivamente, salários de R$ 2.469,17 e R$ 6.426,33 na região. Vale destacar que os trabalhadores do Setor Industrial, cuja remuneração média é de R$ 4.105,69, também devem sentir as consequências no bolso.

Segundo projeções hipotéticas elaboradas pela economista Eliane Rosandiski (veja nos quadros abaixo), responsável pelo estudo do Observatório PUC-Campinas, a redução de 70% na jornada de trabalho derrubaria pela metade (51% e 55%, nesta ordem) a massa salarial na Indústria e no grupo de trabalhadores com Ensino Médio e Ensino Superior completos. A hipótese considera a preservação de todos os empregos, sem estimar os efeitos das demissões.

De acordo com a docente extensionista, os profissionais mais prejudicados integram importante fatia da classe média, que terá seu poder de compra bastante afetado. “Quanto maior o ajuste sobre as rendas mais altas, os efeitos dinâmicos da perda do poder de compra dessa classe sobre os segmentos das atividades terciárias serão imprevisíveis. Uma série de estabelecimentos que oferece serviços pessoais, como restaurantes, escolas, salões de beleza e turismo, por exemplo, será fortemente impactada”, destaca.

Mesmo com a Medida Provisória 937/20, que injetará R$ 76,9 milhões à massa de rendimentos da RMC com o pagamento de auxílio emergencial a cerca de 150 mil famílias, os efeitos em longo prazo da flexibilização de jornada serão inevitáveis, avalia a professora. “Aos impactos dessa contração das atividades domésticas devem ser somadas as crises das economias internacionais. Os elementos que definem e contornam essa crise a tornam única e sem precedentes na história recente do sistema capitalista”, afirma.

Os riscos iminentes da queda de demanda, provocados pelo encolhimento do poder de consumo da classe trabalhadora e pela possibilidade futura de aumento nas taxas de desemprego, seriam impeditivos importantes à retomada do crescimento econômico, podendo resultar na falência de muitas empresas pós-crise, em especial aquelas dedicadas ao atendimento de serviços para a classe média.

Para minimizar os impactos, a economista entende que o bom manejo da política fiscal constitui a melhor, se não a única, alternativa para garantir a estrutura econômica, dos empregos e da renda. “Quando maior esse esforço, combinado com políticas creditícias de longo prazo para o suporte às empresas e manutenção dos empregos, menos demorada será a retomada”, pontua.



Vinícius Purgato
7 de maio de 2020