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Formação em Letramento Racial termina com palestra sobre patrimônios afro-brasileiros

Focado nos docentes, o curso promovido pelo CEAAB contou com outros quatro encontros anteriores

A edição 2024 do Curso de Formação de Letramento Racial dos Docentes da PUC-Campinas, promovido pelo Centro de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros (CEAAB) da Universidade, chegou ao fim, no último dia 10 de dezembro, em uma das salas do prédio H15, localizado na Escola Politécnica, no Campus I, com a entrega dos certificados aos participantes e a realização de uma palestra da Profa. Dra. Alessandra Ribeiro Martins sobre patrimônios materiais e imateriais afro-brasileiros, realizando uma amarração de tudo o que foi abordado nas quatro outras palestras anteriores.

De acordo com a historiadora, urbanista, gestora cultural da Casa de Cultura Fazenda Roseira e liderança da Comunidade Jongo Dito Ribeiro, que trabalha na preservação da cultura do jongo (uma dança de origem africana praticada ao som do caxambu, um tambor cerimonial) e que realiza festejos em prol da tradição iniciada por Benedito Ribeiro em 1932, a palestra procurou “realizar um diálogo aprofundado com todos os docentes que participaram da formação, buscando saber sobre o quanto eles se sentem hoje mais seguros de ampliar o seu repertório, consolidando em seu cotidiano essa sociedade que a gente busca, de maior igualdade racial para todos nós”.

Ela continua dizendo que “em tempos onde o racismo mata centenas de pessoas todos os dias em nosso país, trazer a consciência racial para dentro da formação dos educadores, que contribuem com a reflexão inclusiva e diversa de outras pessoas, se faz fundamental, e o que a gente busca é um mundo étnico-racial variado, em que todas as pessoas possam ser respeitadas, independentemente da cor de sua pele e de sua classe social”.

A Profa. Dra. Alessandra Ribeiro Martins encerrou, no último dia 10 de dezembro, o rol de palestras do Curso de Formação de Letramento Racial dos Docentes da PUC-Campinas tratando de patrimônios materiais e imateriais afro-brasileiros e realizando uma amarração de tudo o que foi abordado nos quatro primeiros encontros.

Porém, a palestrante explica ainda que é preciso lembrar que o Brasil foi o último país do continente americano a abolir a escravidão e que, por isso mesmo, “nenhum lugar da face da Terra teve uma experiência tão agressiva de racismo como o Brasil e é por isso mesmo que o país é quem mais tem de ensinar ao mundo sobre a criação de uma sociedade antirracista, inclusiva e que respeite todas as diferenças”.

Sobre as palestras
Todas as palestras realizadas durante o curso aconteceram com amplo diálogo com os participantes.

A primeira delas, ministrada pela Profa. Dra. Ângela Fátima Soligo, psicóloga, docente colaboradora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro do Grupo de Pesquisa DiS (Grupo de Estudos e Pesquisas Diferenças e Subjetividades em Educação: Estudos Surdos, do Racismo, Gênero e Infância), aconteceu no último dia 17 de setembro, e teve como tema a branquitude, um conceito social que se refere ao pertencimento étnico de pessoas brancas, à sua posição de suposta superioridade racial e à forma como perpetuam o racismo.

A segunda, realizada no último dia 8 de outubro, tratou do racismo estrutural, que é um conjunto de práticas e hábitos que promovem o preconceito racial, de forma consciente ou inconsciente, e que se encontram enraizados na sociedade.

Esta foi realizada pelo ex-vereador, ex-deputado estadual e ex-presidente da Associação Atlética Ponte Preta, Sebastião Moreira Arcanjo. Tiãozinho, como também é conhecido, foi o primeiro mandatário negro do clube, o qual ele administrou entre 2019 e 2022. Além disso, ele já foi secretário de Trabalho e Renda e de Serviços Públicos de Campinas e, atualmente, é coordenador de Relações Institucionais e Governamentais do Grupo CPFL Energia.

A terceira palestra tratou de episódios de racismo cotidiano (que se manifesta de diversas formas, como preconceito, discriminação racial e piadas).

Ocorrida no último dia 29 de outubro, ela foi ministrada pela Profa. Dra. Caroline Felipe Jango da Silva, diretora geral do Campus Hortolândia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) e membra fundadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas do IFSP e do Grupo de Pesquisa DiS (Grupo de Estudos e Pesquisas Diferenças e Subjetividades em Educação: Estudos Surdos, do Racismo, Gênero e Infância). Ela também é autora do livro “Aqui Tem Racismo!: Um Estudo das Representações Sociais e das Identidades das Crianças Negras na Escola”.

“Racismo e Integridade Acadêmica” foi o tema da última palestra, realizada pelo advogado Leonardo José de Araújo Ribeiro, no último dia 12 de novembro. Especializado em Litígio Civil e Comercial, com especialidade em litígios nas instâncias extraordinárias (Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal), ele também é doutor em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e tem a sua pesquisa voltada para as áreas de Direito Econômico, Direitos Civis e Racismo.

Sobre o Curso de Letramento Racial
Letramento racial é a capacidade de reconhecer e discutir questões relacionadas à raça e ao racismo de forma crítica e informada. Segundo a comendadora Edna Almeida Lourenço, presidente da Associação dos Religiosos de Matriz Africana de Campinas e Região (Armac) e membra do Centro de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros (CEAAB) da PUC-Campinas, o letramento racial é um processo de reeducação que visa desconstruir formas de pensar e agir naturalizadas e normalizadas socialmente.

De acordo com ela, o curso realizado no segundo semestre de 2024 objetivou promover a equidade racial; construir uma sociedade mais justa e inclusiva; enfrentar as desigualdades históricas e estruturais que afetam grupos raciais dissidentes; criar ambientes mais conscientes, sensíveis e equitativos; e valorizar e respeitar as experiências e contribuições de diferentes comunidades.

“Durante esta última edição contamos com a presença de professores das faculdades de Administração, Ciências Sociais e Educação Física, bem como de cursos da Escola de Ciências da Vida (ECV)”, comenta a comendadora Edna.

Nada sobre Nós sem Nós
O CEEAB tem desenvolvido, desde 2020, o projeto Diálogos sobre Racismo, que tem como objetivo conscientizar a comunidade acadêmica sobre a convivência com negros e negras de forma igualitária, sempre respeitando as diferenças e seguindo o critério “Nada Sobre Nós sem Nós”.

Segundo a comendadora Edna Almeida Lourenço, presidente da Associação dos Religiosos de Matriz Africana de Campinas e Região (Armac) e membra do Centro de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros (CEAAB) da PUC-Campinas, o letramento racial é um processo de reeducação que visa desconstruir formas de pensar e agir naturalizadas e normalizadas socialmente.

A comendadora Edna lembra que, para participarem do projeto, foram trazidos acadêmicos, intelectuais, parlamentares e militantes do movimento negro que lutam contra as desigualdades raciais e sociais existentes na educação e que são comprometidos com o combate ao racismo, que tratam da pauta racial e que buscam o bem-viver.

“Sabemos que construir uma sociedade mais igualitária requer a compreensão do papel de cada um na reprodução do racismo na sociedade, pois só assim é possível elaborar estratégias efetivas para o seu enfrentamento. Na educação, essa desigualdade é evidente e o combate a ela é indispensável para qualquer mudança, de modo que sem uma educação efetivamente antirracista não é possível pensar em uma sociedade igualitária”, lembra a presidente da Armac.

Entendendo a desigualdade racial
Ela continua dizendo que o Curso de Letramento Racial “possibilitou aos participantes entenderem o que é a desigualdade racial, os seus aspectos históricos, como ela acontece na educação brasileira e ainda conhecerem políticas públicas e iniciativas do CEAAB para enfrentá-la”.

A comendadora Edna comenta também que “no Brasil, as diferenças sociais entre brancos e negros são nítidas no cotidiano. Além do aspecto econômico, no qual pessoas pretas e pardas são a maioria entre as que possuem rendimentos mais baixos, sendo entre elas onde mais existe a persistência de situações de maior vulnerabilidade social, indicadas por evidências nos campos da educação, saúde, moradia e afins, mostra-se também inequívoco o desequilíbrio na garantia de direitos em prejuízo da população negra. É possível ainda observar a sub-representação entre líderes de equipes nas empresas, juízes e políticos”.

“Nessa perspectiva, os palestrantes apresentaram aos participantes do curso a comprovação dessa realidade através de pesquisas, fatos e literatura que mostra a existência de uma desigualdade racial imposta pela prática do racismo cruel e perverso e que atinge de forma direta a população negra e o quanto é urgente uma escuta direta e ativa para o seu combate na educação a fim de que possamos tirar o véu que cobre os nossos olhos quando tratamos dessa questão”, finaliza a comendadora Edna.



Daniel Bertagnoli
8 de janeiro de 2025