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DOCUMENTÁRIO “DIREITO DE PERMANECER CALADO”

Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo reflete sobre a relação entre a população pobre e a Polícia Militar

 

Por Amanda Cotrim

Em trabalho de pesquisa, ex-alunos de jornalismo da PUC-Campinas mostraram que moradores de ocupações urbanas, em Campinas, não se sentem seguros diante da Polícia. Por meio do estudo de campo, ouvindo moradores da região do Parque Oziel, na área sul da cidade, os estudantes detectaram o descrédito da população em relação à instituição policial, mostrado em videodocumentário realizado como projeto experimental, em 2014. “A sensação de insegurança dessa população, em relação à Polícia Militar (PM), nos impulsionou e o estudo mostra que a PM gera medo nos moradores daquela região”, afirma o estudante Douglas Moraes.

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Gravação do documentário no Parque Oziel, em Campinas/ Crédito: Arquivo

Em 2013, o Índice de Confiança na Justiça Brasileira (ICJBrasil), realizado pela Escola de Direito de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), apontou que 70,1% da população brasileira não confia nas polícias.

Para realizar a pesquisa e o videodocumentário “Direito em permanecer calado”, os ex-estudantes participaram de uma imersão na região do Parque Oziel, localizado a seis quilômetros do centro de Campinas. O local já foi considerado a maior ocupação urbana na América Latina. Os bairros Parque Oziel, Jardim Monte Cristo e Gleba B ocupam uma área de um milhão e quinhentos mil metros quadrados, com três mil famílias, num total de 30 mil moradores. O videodocumentário entrevistou moradores dos bairros Gleba B, Parque Oziel, Jardim Monte Cristo, São José, Telesp e Jardim das Bandeiras I e II, durante quatro meses (junho a outubro de 2014), além de membros da Policia Militar de Campinas. Um dos aspectos abordados é o que os, agora, ex-alunos de Jornalismo chamaram de tolhimento à liberdade de expressão, como a desarticulação de um baile  funk na região, com o argumento de que havia a presença de menores e de drogas.

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Da esquerda para direita: Orientador Prof. Me. Marcel Cheida, e os ex-alunos Douglas Moraes e Mayara Yamaguti/ Crédito: Álvaro Jr.

Durante o estudo, os realizadores do vídeodocumentário também se valeram de bibliografia e entrevistas com especialistas, que refletiram sobre os motivos que levam a população pobre e que mora na periferia a ter medo da polícia. “Durante o trabalho, entrevistamos especialistas em Ciência Política, Ciência Social e em Direitos Humanos, que discutem sobre os preconceitos sociais penetrados na própria PM contra determinada classe social”, explicou Moraes. Os ex-estudantes também destacaram que há um imaginário social que faz com que o policial ao ver um rapaz jovem, negro e na periferia pense que ele, necessariamente, cometeu um crime.

Para o trabalho, os estudantes entrevistaram a Doutora em Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP), Thais Battibugli, que explicou que “a gestão da segurança pública ainda permanece no cunho autoritário e violento”. A causa disso, segundo o mestre em direitos humanos pela USP e Tenente Coronel da Polícia Militar de São Paulo, Adilson Paes de Souza, é que a segurança pública ainda está sob a ordem “da doutrina da segurança nacional, idealizado pelos EUA após a Segunda Guerra Mundial e difundida na América Latina”, explicou.

O outro lado:

O Tenente Coronel do 35º Batalhão da Polícia Militar de Campinas, Marci Elber Rezende, também entrevistado no documentário, não avalia que exista preconceito na abordagem policial e diz que os policiais são hostilizados e reagem.  “A polícia não age de forma violenta. Ela reage às ações violentas. A polícia é preparada para realizar abordagem a pessoas suspeitas, a partir do feeling do policial”, relatou.

O Jornalismo precisa olhar para a realidade

Para o orientador do trabalho e docente da Faculdade de Jornalismo, Prof. Me. Marcel Cheida, o trabalho dos ex-alunos reforça a necessidade de o jornalismo se voltar para as questões sociais. “É preciso que o jornalista olhe para a realidade”, ressalta. O Projeto Experimental foi uma realização dos ex-alunos Arthur Menicucci, Douglas Moraes, Gabriela Aguiar e Mayara Yamaguti. A orientação foi do Prof. Me. Marcel Cheida. O trabalho foi avaliado com nota 9,5.

Fonte: Jornal da PUC-Campinas edição 160



Silvia Perez de Freitas
1 de dezembro de 2017