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CEAAB recebe lançamento de livro que trata da história do apagamento dos povos originários

“Terra de Sangue, Sangue na Terra!” é uma obra do escritor e líder indígena Givanildo “Giva” M. da Silva

O Centro de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros (CEAAB) da PUC-Campinas, recebeu, no último dia 18 de junho, o lançamento do livro “Terra de Sangue, Sangue na Terra!: O Rastro do Colono-Capitalismo em Pindorama”, do escritor e líder indígena Givanildo “Giva” M. da Silva.

A obra, que aborda o processo histórico de apagamento dos povos originários no Brasil, destaca, segundo o seu autor, as lutas travadas e as violências sofridas ao longo do tempo, desde o início do processo de colonização, na primeira metade do século XVI, até os dias atuais, como expulsões de territórios, estupros, escravização, genocídio e epistemicídio (a destruição, invisibilização ou desqualificação de conhecimentos, saberes e culturas não ocidentais, sendo frequentemente associadas ao colonialismo e à dominação de certos conhecimentos sobre outros) e discute as ideologias que sustentam e justificam esses atos, revelando as bases estruturais do racismo e da colonialidade que ainda persistem. Um debate sobre todas essas ideias foi, posteriormente, travado pelos presentes ao evento.

Durante o lançamento, houve entre os presentes um debate sobre o processo histórico de apagamento dos povos originários no Brasil, destacando-se as lutas travadas e as violências sofridas ao longo do tempo e as ideologias que sustentam e justificam esses atos, revelando as bases estruturais do racismo e da colonialidade que ainda persistem.

Locus de referência
De acordo com a professora da Faculdade de Direito e coordenadora do Centro de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros, Dra. Waleska Miguel Batista, o CEAAB, como espaço de reflexão e pesquisa sobre questões africanas e afro-brasileiras, tem se constituído como “um locus de referência na Universidade para toda a comunidade acadêmica”. Ela diz ainda que “realizar um debate sobre a relação entre as diversas formas de violência praticada contra os povos e grupos racial e culturalmente diferenciados que constituem a identidade do povo brasileiro é uma forma de ampliar o acesso à cultura, ao conhecimento e ao desenvolvimento da ciência com atenção aos problemas e desigualdades sociais”.

Sobre a ideia de se lançar o livro no local, a professora comenta que o autor entrou em contato com o Prof. Dr. Pedro Pulzatto Peruzzo, do Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD), com o intuito de lançá-lo no CEAAB em virtude de o livro dialogar com pesquisas que são desenvolvidas no Programa, especialmente no que que se refere a trabalhos sobre raça e minorias. Além do professor Pedro, esteve presente ainda o Prof. Dr. Guilherme Perez Cabral, que também mantém pesquisas nessa linha no PPGD.

Giva, por sua vez, completa dizendo que o professor Pedro, “que há anos atua na defesa dos direitos dos povos indígenas, soube que eu faria o lançamento do livro em São Paulo e me convidou para realizá-lo no CEAAB, um local de enfrentamento às opressões”. Ele completa dizendo que “espaços como esse são fundamentais para que lutemos contra quaisquer tipos de dominação e as superemos. Diante da relevância do Centro nesse sentido, foi, sem dúvida nenhuma, o local mais adequado para o lançamento”.

Giva explica que “além de uma crítica contundente”, a sua obra “é um convite à ação, rejeitando a passividade diante das estruturas opressoras”. Ele completa dizendo que “ela não apenas expõe as feridas do colonialismo, mas aponta caminhos para a transformação, destacando a importância da articulação política entre movimentos indígenas e outras forças sociais progressistas”.

Sobre o livro
O livro “Terra de Sangue, Sangue na Terra!: O Rastro do Colono-Capitalismo em Pindorama” se configura como um potente manifesto que denuncia as violências históricas contra os povos originários de Pindorama (em tradução livre para o português, “Terra das Palmeiras”, nome usado pelos tupis-guaranis para se referir ao Brasil e também utilizado em outras línguas originárias da América do Sul, como o quíchua), revelando as estratégias de silenciamento impostas pelo Estado, mas também celebrando cinco séculos de resistência.

Giva, autor e liderança indígena em contexto urbano, assume o papel de narrador dessa trajetória, dialogando com as vozes de seus parentes e trazendo à tona memórias que desafiam a história oficial. A sua análise combate o racismo epistêmico (referente ao conhecimento), propondo uma reescrita da história a partir das perspectivas indígenas, fundamentada em relatos testemunhais e vivências coletivas.

O autor explica que “além de uma crítica contundente, a obra é um convite à ação, rejeitando a passividade diante das estruturas opressoras. Ela não apenas expõe as feridas do colonialismo, mas aponta caminhos para a transformação, destacando a importância da articulação política entre movimentos indígenas e outras forças sociais progressistas. O livro defende também que a luta deve ser plural, construída em alianças que amplifiquem as demandas por justiça e reparação, sempre com a natureza e o bem viver como eixos centrais”.

Nos capítulos finais, o autor reforça a ideia de que a história não é um fato imutável, mas um campo em disputa, que precisa ser constantemente revisitado e ressignificado. “A obra se encerra como um chamado utópico e decolonial, convocando todos, todas e todes a se unirem na construção de um novo projeto de sociedade, onde a diversidade de existências seja não apenas tolerada, mas celebrada como fundamento de um estado verdadeiramente democrático e plural”, encerra Giva.

Para aqueles que desejarem adquirir a obra, basta enviar um e-mail para tvimbau@gmail.com.



Daniel Bertagnoli
8 de julho de 2025