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O jornalismo pode ajudar a sociedade a se desenvolver, fornecendo informações relevantes para tomadas de decisões do cotidiano ao mais complexo pensamento

*Profa. Dra. Cyntia Belgini Andretta

Thomas Hobbes afirmou no seu livro Leviatã que “conhecimento é poder”. Essa frase ficou extremamente difundida, mas às vezes sentimos que a oportunidade de ter acesso a esse conhecimento é tolhida para alguns e, portanto, são pessoas impedidas de ter algum poder sobre o curso de suas próprias vidas. E, afinal, como conhecemos? Conhecemos as coisas primeiramente pela curiosidade, mas também pela busca em livros, documentos, documentários, aprendemos com os anciões, com os professores, os sábios, os especialistas, que inclusive escrevem textos na internet; e também temos conhecimento do mundo pelos jornais. Se algo acontece com qualquer um desses canais ao saber, estamos dando menos oportunidades para que as pessoas tenham decisões mais acertadas em sua vida cotidiana, e isso é poder.

Sócrates também disse que “quem conhece mais a verdade é mais capaz de mentir”; portanto, ética é fundamental em profissões como as que envolvem o saber da humanidade. O jornalista, ao noticiar um fato, deve ser ético, uma vez que muitas atitudes derivarão daquela notícia veiculada.

Surgem, assim, alguns movimentos dos jornalistas que, com responsabilidade, estão aproveitando as tecnologias disponíveis no acúmulo dos séculos para fazer com que as notícias gerem de fato conhecimento e possam transformar o mundo de um modo positivo.

Há experiências de uso de realidade virtual para impactar pessoas a ajudarem quem passa fome, por exemplo. A jornalista Nonny de la Peña usou essa tecnologia para que, sentindo a experiência do noticiado, pudesse ter mais empatia e, se envolvendo, buscasse mudar de algum modo a realidade do noticiário.

Em termos de histórias mais gerais, como política, por exemplo, noticia-se um cenário generalizado de corrupção; contra isso o jornalismo, novamente munido de conhecimento e tecnologia, está cada vez mais utilizando bases de dados (big data) disponíveis em internet para ajudar nas investigações que envolvem o uso indevido de dinheiro público, por exemplo. Há palestras no aplicativo TED sobre esse trabalho de jornalismo de dados, mais viável com o advento da internet, e que oferece mais informação e conhecimento às pessoas, como por exemplo o caso Panamá Papers cujo descritivo do vídeo aponta: “Gerard Ryle liderou a equipe internacional que divulgou os documentos de Panamá, os 11,5 milhões de documentos que vazaram de 40 anos de atividade da empresa de lei panamenha Mossack Fonseca que têm oferecido uma visão sem precedentes sobre o âmbito e os métodos do mundo secreto de financiamento offshore. O maior projeto de jornalismo colaborativo na história”. Não só colaborativo, como também de dados.

Há investimentos aparecendo nessa área, o Knight News Challenge, que financiou o PANDA e o projeto Overview, também aposta em um espírito de colaboração entre os jornalistas para análise de muitos dados disponíveis. Há informação, é preciso interpretar os dados e transformá-los em conhecimento. O ProPublica, outro exemplo, liberou seu Data Store (arquivo de dados) aos jornalistas. Pioneiros como The Guardian, The New York Times, Texas Tribune, e Die Zeit continuam a elevar o nível com suas histórias baseadas em dados. É preciso senso investigativo, muita cautela e pesquisas, hoje facilitadas pela abertura de informações em rede. Desse modo, podemos oferecer jornalismo de qualidade às pessoas.

“Jornalismo de dados, jornalismo de precisão, e aplicativos de notícias são todos cruciais para o jornalismo – e o seu futuro – porque eles extraem sentido das enormes quantidades de dados”, disse Brant Houston, ex-diretor executivo da Investigative Reporters and Editors, em material traduzido e adaptado por Natália Mazotte do artigo “In the age of big data, data journalism has profound importance for society”, de Alex Howard. Ele completa: “para que as pessoas possam entender o mundo e tomar decisões e criar políticas sensatas”.

O jornalismo pode ajudar a sociedade a se desenvolver, fornecendo informações relevantes para tomadas de decisões do cotidiano ao mais complexo pensamento, desde avisos sobre a importância do uso consciente da água até as complexas economias internacionais, situações climáticas ou mesmo vacinas contra a dengue são alguns exemplos de informações úteis que podem ajudar a construção de um mundo melhor. E, aliado à tecnologia, às boas práticas do jornalismo ensinadas nas Faculdades e aos dados disponíveis em rede, o jornalismo tende a crescer.

* Cyntia Belgini Andretta é docente das Faculdades de Jornalismo e Relações Públicas da PUC-Campinas.



Eduardo Vella
30 de agosto de 2016