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Aluna de Publicidade e Propaganda irá realizar pesquisa sobre cultura periférica em Portugal

 O foco de Suellen Souza será em influenciadoras digitais negras originárias de países lusófonos

A estudante Suellen Yasmin Xavier de Souza, do quinto semestre do curso de Publicidade e Propaganda da PUC-Campinas, dará continuidade, em Portugal, a sua pesquisa, iniciada em território brasileiro, sobre os fluxos midiáticos da cultura periférica. O foco agora será em influenciadoras digitais negras originárias de países lusófonos. O título do projeto é “A Presença da Cultura Periférica Brasileira nos Conteúdos de Influenciadoras Digitais Negras Imigrantes em Portugal”.

Durante o período em que estiver no país europeu, de 4 de janeiro a 15 de fevereiro de 2025, Suellen estará vinculada ao Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE), sendo orientada pela Profa. Dra. Thais França da Silva, que faz parte do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia da instituição em questão.

A estudante Suellen Yasmin Xavier de Souza durante a apresentação de sua pesquisa no 27º Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste, realizado entre 30 de maio e 1º de junho deste ano, no Centro Universitário Presidente Antônio Carlos (Unipac), em Barbacena (MG).

Em seu segundo ano como bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), a princípio, a sua pesquisa “Marcas, Influenciadoras Digitais e a Representação da Mulher Negra no Brasil” foi focada em influenciadoras digitais negras de periferias, tendo como objetivo compreender “tanto a produção de conteúdo mobilizada por elas, quanto o envolvimento de marcas brasileiras nesse contexto”, explica a estudante.

Ela comenta também que durante o processo de entender os fluxos midiáticos da cultura periférica brasileira, foi identificado que, além das influenciadoras daqui do Brasil, criadoras de conteúdo negras de países lusófonos, especialmente imigrantes em Portugal, também mantêm “uma relação interessante com essa cultura através das redes sociais”. Segundo Suellen, essa conexão se manifesta, principalmente, por meio de elementos como a dança, a música e o vestuário.

“O trânsito da cultura periférica entre sujeitos imigrantes de países lusófonos revela práticas de consumo, adaptações e ressignificações de uma cultura historicamente marginalizada. Para as influenciadoras negras imigrantes em Portugal, vindas de países como Angola ou Moçambique, por exemplo, a conexão com valores, estéticas e expressões culturais periféricas também possui potencial para promover novos meios de afirmação em um novo território, dado que essas manifestações estão ligadas, no contexto brasileiro, a temas como identidade e resistência”, esclarece a pesquisadora.

Ela diz ainda que “diante disso, nosso objetivo é compreender as redes e trocas simbólicas que surgem entre essas mulheres e a comunidade periférica brasileira, considerando possíveis narrativas de pertencimento e a própria herança colonial comum entre países lusófonos”.

Da esquerda para a direita, o Prof. Dr. Tarcísio Torres Silva, Suellen e o mestrando do Programa de Pós-Graduação (PPG) em Linguagens, Mídia e Arte da PUC-Campinas, Andres Colmenero, durante o 27º Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste.

Viagem à Portugal
A oportunidade de Suellen ir para Portugal surgiu a partir de sua trajetória como bolsista de iniciação científica, oficialmente iniciada em 2023, ainda que, segundo ela, as primeiras conversas com o seu orientador, o Prof. Dr. Tarcísio Torres Silva, tenham ocorrido já no final de 2022.

“Durante o desenvolvimento da pesquisa, identificamos um fenômeno que conectava o tema do projeto a outros países lusófonos. Dado isso, desenvolvemos, a partir dessa observação, um novo projeto de pesquisa, considerando a Bolsa Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE) como uma oportunidade para aprofundar os estudos e Portugal foi escolhido como destino devido ao fluxo migratório constante no país, o que dialoga diretamente com a temática da pesquisa”, comenta a aluna.

Renovação da bolsa
De acordo com o professor Tarcísio, neste ano, foi pedido à FAPESP a renovação da bolsa de Suellen, sendo proposto a Fundação um recorte mais específico do tema apresentado primeiramente, voltado para influenciadoras negras de periferia. Após mais de um ano dedicado à pesquisa e entendendo que esta tinha evoluído “significativamente e ganhado maturidade, decidimos então que seria importante que ela tentasse a bolsa de estágio no exterior, já que é uma ótima oportunidade para todos os bolsistas da FAPESP”.

Dado isso, foi montada uma proposta que pudesse contribuir para a pesquisa realizada até agora em território brasileiro e, ao mesmo tempo, trazer novos elementos de análise. Foi então que, segundo o orientador, “pensamos em estudar mulheres negras imigrantes influencers em Portugal, uma vez que há no país uma grande comunidade de imigrantes, muitos deles provenientes de países africanos lusófonos, como Angola, Moçambique e Cabo Verde, e pudemos perceber vários paralelos com o que a Suellen estava estudando aqui, como o fluxo da cultura periférica brasileira nesses espaços digitais, além da condição, também periférica, de muitas dessas imigrantes”.

O professor Tarcísio e Suellen durante o 29º Encontro de Iniciação Científica e 14º Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, ocorridos durante a Semana Acadêmica da PUC-Campinas, entre os dias 21 e 25 de outubro.

“Enviamos o projeto para a professora Thais França, do ISCTE, que prontamente o acolheu. Ela será a supervisora da pesquisa enquanto a Suellen estiver em Portugal. Com esse aceite, pudemos submeter a proposta. Mais uma vez, o pedido foi aprovado pela FAPESP, mostrando que a dedicação de Suellen durante a pesquisa realizada gerou resultados reconhecidos pela agência de fomento e este intercâmbio será muito bem-vindo em vários aspectos, pois ela terá uma experiência internacional qualificada em plena graduação e poderá conhecer outra instituição de ensino, ter contato com outros estudantes e pesquisadores no exterior, além de manter contato direto com as imigrantes as quais tem interesse em estudar”, explica o professor Tarcísio.

Ele finaliza dizendo que para a Faculdade de Publicidade e Propaganda da PUC-Campinas, “o intercâmbio estimula a internacionalização do curso e fomenta a produção científica qualificada por meio da participação em eventos acadêmicos no exterior e outros tipos de produção, além de ser um agente motivador para que outros alunos e alunas se interessem pela pesquisa acadêmica. Para a Universidade, o estágio se soma aos esforços em direção à internacionalização dos estudantes, traz qualificação para o tipo de fomento que é conquistado na PUC-Campinas e abre caminho para novas parcerias com instituições internacionais”.

Experiência de vida
Suellen diz que, sem dúvida nenhuma, esta experiência vai para muito além de se viajar para um outro país e que estudar sobre a identidade e a cultura brasileira periférica no exterior significa “levar comigo as vozes de tantos outros estudantes que não tiveram a oportunidade de acessar e representar as suas realidades no meio acadêmico como eu tenho a chance de fazer agora. Dedico, antes de tudo, a minha jornada àqueles que não tiveram a oportunidade de estar aqui”.

Ela continua explicando que essa experiência lhe permitirá estabelecer conexões com outras pessoas, culturas e formas de pensar e produzir conhecimento, “algo que também considero muito especial e produtivo”.

Resumo das pesquisas
A pesquisa “Marcas, Influenciadoras Digitais e a Representação da Mulher Negra no Brasil” mostra que em função da cobrança social por mais representatividade e diversidade em suas atividades de comunicação as marcas têm buscado se aproximar do público por meio de ações que envolvam influenciadores digitais que tenham em seu escopo comunicacional elementos socialmente responsáveis.

Com o intuito de compreender melhor esse cenário a partir da perspectiva da representatividade de mulheres negras no país, o projeto direcionou o olhar para a relação entre as marcas e as influenciadoras negras no Brasil. Para tanto, buscou compreender a discussão sobre o feminismo negro no país, assim como a maneira que, historicamente, as marcas representam as mulheres negras na publicidade.

Durante o período em que estiver no país europeu, de 4 de janeiro a 15 de fevereiro de 2025, Suellen estará vinculada ao Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE), sendo orientada pela Profa. Dra. Thais França da Silva, que faz parte do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia, vinculada à Escola de Sociologia e Políticas Públicas da instituição em questão (na foto).

A posteriori, a análise será realizada por meio de estudos de caso de influenciadoras previamente selecionadas no Instagram e no TikTok e que tenham realizado ações de cunho publicitário. Com isso, será possível compreender melhor a relação das marcas com as mulheres negras no país, considerando as transformações no cenário midiático atual.

O projeto “A Presença da Cultura Periférica Brasileira nos Conteúdos de Influenciadoras Digitais Negras Imigrantes em Portugal”, por sua vez, visa explorar como influenciadoras negras imigrantes reinterpretam elementos culturais da periferia brasileira. Enquanto influenciadoras brasileiras de periferia desafiam e ressignificam estereótipos associados às classes populares por meio da cultura periférica, influenciadoras negras imigrantes em Portugal, vindas de países lusófonos como Angola ou Moçambique, incorporam esses elementos culturais em suas produções, oferecendo novas perspectivas e interpretações.

O estudo busca compreender como essas influenciadoras promovem a cultura periférica e como esse conteúdo contribui para a busca de identificação entre outros imigrantes em um novo país. A metodologia inclui revisão bibliográfica para fornecer uma base teórica sobre como raça e imigração afetam a percepção e a representação midiática, o mapeamento de influenciadoras para identificar as principais figuras que abordam a cultura periférica brasileira e o estudo de observação para analisar o impacto desses conteúdos na identidade e percepção destes mesmos imigrantes.

Os resultados esperados irão incluir uma compreensão aprofundada de como essas influenciadoras reinterpretam a cultura periférica, oferecendo novas perspectivas e formas de identificação entre os imigrantes lusófonos em Portugal.



Daniel Bertagnoli
18 de dezembro de 2024