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A conquista da casa própria e os desafios da inserção urbana

Ações comunitárias em residenciais do Programa Minha Casa Minha Vida são objeto de pesquisa de ex-aluna do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura

O Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) foi criado em 2009, na segunda gestão do presidente Lula, para subsidiar a compra da casa própria para famílias de baixa renda. Foram entregues mais de 5,5 milhões de moradias, quase 2 milhões delas para famílias com renda de até três salários mínimos. Mas, mesmo após ter este sonho realizado são muitos os desafios para estas famílias. Estabelecidos de maneira geral em áreas periféricas, estes empreendimentos dependem de um conjunto de ações do poder público e por parte da comunidade para se integrarem ao seu entorno e à cidade como um todo. Ao longo deste processo surgem várias reclamações por parte destes moradores, desde as relacionadas a problemas construtivos até por conta da carência de serviços públicos e de infraestrutura urbana. Como reverter este quadro e melhorar a vida desses moradores? Este foi o foco da pesquisa da arquiteta e ex-aluna da PUC-Campinas, Gabrielle Okretic. orientada pela professora Laura Bueno, no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da PUC-Campinas. Parte dos resultados da pesquisa foram apresentados em novembro do ano passado no III Simpósio Nacional de Gestão e Engenharia Urbana – SINGEURB 2021.

A pesquisa foi realizada entre 2016 e 2018 nos três empreendimentos do MCMV em Campinas: o Residencial Sírius, no bairro Satélite Íris, o Residencial Abaete, na região da Vila União, e o Residencial Bassoli, no Distrito de Campo Grande. Junto eles abrigam quase sete mil unidades habitacionais. Por conta do número de reclamações dos moradores junto à Caixa, financiadora do MCMV, os três empreendimentos participaram do DIST, sigla para o projeto “Desenvolvimento Integrado Sustentável do Território”, criado pelo banco para ajudar a lidar com os desafios da inserção urbana dos residenciais em contextos de pós-ocupação.

Os projetos DIST são realizados em parceria com entidades locais como consultorias da área de arquitetura e ONGs. A ex-aluna da PUC-Campinas atuou como consultora de uma das empresas parceiras dos projetos DIST conduzidos em Campinas. “Estes projetos partem da premissa de que, através de um trabalho técnico social inovador – que reconhece os moradores de empreendimentos habitacionais como protagonistas no processo, engajando estes com a cidade – é possível melhorar a vida cotidiana dos mesmos, requalificando espaços públicos com a participação popular, promovendo espaços de convívio”, explicou Gabrielle.

Lugar de morar, lugar de viver

Dificuldade de acesso à rede de serviços, ausência de equipamentos de lazer, falta de oportunidades de trabalho, dificuldade de interlocução com o poder público, população com origens diversas, muitas vezes sem laços prévios de solidariedade, exposição negativa na mídia, estigmatização dos moradores, atuação do crime organizado, foram alguns dos problemas registrados nos residenciais do MCMV de Campinas. “Neste tipo de intervenção, nosso objetivo é encontrar caminhos para que os moradores se sintam parte do lugar, ajudando a criar um senso de identidade e pertencimento”, explicou Gabrielle. “Para isso desenvolvemos projetos comunitários, cursos, oficinas, onde eles são os protagonistas na construção e melhoramento do seu bairro”, complementou.

Das vivências e encontros com a comunidade derivaram grupos formados por interesses comuns. Estes grupos foram incentivados a criar projetos comunitários, posteriormente executados por meio de mutirões. “Mas de 200 pessoas participaram dos mutirões nos residenciais Sírius e Abaeté e mais de 300 pessoas no Jardim Bassoli”, contou Gabrielle. Os moradores foram responsáveis pela revitalização de espaços de lazer, de praças e de um Centro Comunitário nos três residenciais. Eles participaram de todo processo, desde a escolha dos locais das intervenções, pela concepção do projeto e sua execução. Segundo a arquiteta, os diálogos da comunidade com o poder público, intermediados no âmbito do DIST, resultaram ainda na construção de um centro de saúde no Jardim Bassoli.

A execução dos projetos contou com parcerias com entes governamentais, sociais, educacionais e empresariais, mas buscando sempre incentivar a proatividade dos moradores da comunidade na interlocução com os diferentes parceiros. “Apesar de pequenos avanços, diante da dimensão destes empreendimentos, a vivência demonstrou que, no que tange o engajamento da totalidade dos moradores, ações de importante relevância foram alcançadas a médio e longo prazo”, afirmou Gabrielle. Segundo ela, em meados de 2021 foi aprovada a construção de um sistema de lazer em um dos bairros. Em outro, a cooperativa de reciclagem foi institucionalizada e projetos são realizados até hoje por grupos universitários em parcerias com entidades locais. “Os recursos humanos são muito ricos, com grande potencial para dar um novo significado aos espaços”, finalizou.

Foto: Agência Brasil

Por Patricia Mariuzzo



Marcelo Andriotti
2 de fevereiro de 2022