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PUC-Campinas publica necrológio de Sua Santidade o Papa Francisco

FRANCISCO, UM PAPA “DO FIM DO MUNDO”

A PUC-Campinas, em homenagem ao Papa Francisco e ao legado de paz, simplicidade e amor por ele deixado, irá manter as atividades escolares e administrativas durante o luto oficial, promovendo uma momento especial em memória do Santo Padre. A Universidade irá fazer, nas primeiras aulas de cada dia desse período, o necrológio de Sua Santidade, reforçando a importância que o pontífice teve para toda a humanidade.

Leia aqui o necrológio:

Francisco é o primeiro Papa Latino-americano e jesuíta, Jorge Mário Bergoglio, que nasceu na Argentina aos 17/12/1936, um dos cinco filhos de Mário e Regina Sivori. Ingressou na Companhia de Jesus em 1958 e tornou-se sacerdote aos 13/12/1969, vindo a fazer a profissão perpétua em 1973. Junto aos jesuítas exerceu a função de mestre de noviços, reitor de Colégio, professor de teologia, diretor espiritual, confessor e Provincial. Foi eleito bispo auxiliar de Buenos Aires aos 20/05/1992, arcebispo aos 28/02/1998, cardeal aos 21/02/2001, participou do conclave que elegeu Bento XVI em 2005 e foi eleito Papa aos 13/03/2013.

Em sua eleição, apresentou-se com humildade como “o Papa que veio do fim do mundo” e antes de abençoar o povo, inclinou-se e pediu que o povo rezasse e o abençoasse, a fim de servir a Deus, servindo a Igreja, colocando-a a serviço do mundo. Ao longo de seu pontificado escreveu quatro cartas encíclica, sete exortações apostólicas, quarenta constituições apostólicas,  cem cartas apostólicas, diversas em forma de Motu Proprio, realizou quarenta e oito viagens fora da Itália e trinta e uma viagens na Itália, instituiu dois anos jubilares – o “Jubilar extraordinário da Misericórdia” (2015)  e o “Jubilar ordinário da Esperança”(2025) –  e diversos discursos, cartas e bulas.

O pontificado de Francisco possui as seguintes características: espiritual, eclesial, ecológica e a luz da fé.

A espiritualidade transmitida por Francisco evoca sua inaciana configuração em Cristo em estilo franciscano, assumindo a articulação entre fé cristã e pobres, concebendo a pobreza em sua tríplice dimensão: material, espiritual e ética. Por isso, assumiu espiritualmente a pobreza, sensibilizou-se misericordiosamente com os pobres, aproximando-se deles com compaixão, solidariedade e ímpeto universal de fraternidade.

Com fundamento nessa espiritualidade, o pontificado de Francisco é marcado por uma eclesialidade que supera o narcisismo e o mundanismo que propiciam a Igreja romper com Cristo e tornar-se referência para si mesma. Por isso, revisitando o Concílio Vaticano II, trouxe à Igreja um espírito de “sinodalidade”, em que a Igreja é comunhão nas relações interpessoais, nos vínculos e no modo de anunciar e testemunhar o evangelho, constituindo-se como uma “Igreja em saída”. Desse modo, é uma Igreja de “primerear” na missão para não ser burocrática, mas acolhedora em todos os seus organismos – inclusive a cúria romana – apresentando-se no o mundo como um Igreja que peregrina com esperança, a serviço da evangelização.

A característica ecológica de Francisco reflete que esse Papa encontrou em São Francisco de Assis o ícone para que o cuidado com a “casa comum” seja permanente por parte da Igreja e de todos os seres humanos. A ecologia é a arte das relações, em que cada parte está entrelaçada com as outras, pois estão marcadas pela interconexão e interdependência. Dessa forma, cada parte reflete o todo e o todo reflete as partes. A ecologia é “integral” por se constituir das dimensões ambiental, social, mental e espiritual. Um elemento fundamental da “ecologia integral” é o cuidado que devemos ter para com a “casa comum”, em seus patrimônios fundamentais, na constituição de “amizade social” entre os povos e na configuração da “fraternidade universal”, incluindo a harmonia entre as religiões.

A iluminação da fé permeia todo o percurso e o legado do pontificado de Francisco. A fé é uma virtude teologal que nos é dada por revelação divina, efetivada na autocomunicação de Deus aos seres humanos, realizada na história do mundo. Nos dramas do mundo, a fé se desenvolve no mergulho ao mistério divino e sua respectiva celebração, na intelectualidade com presença especial na teologia e no testemunho do amor de Deus. Por isso, a fé que nos chega pelo movimento da revelação divina possui conotação cordial, porque o coração de Deus é somente amor que irradia amor aos seres humanos e aos habitantes da “casa comum”. É um coração generoso e humilde, apresentado pelo Verbo que se fez carne e que se torna o nosso espaço de contemplação do amor, para que no amor possamos viver, constituindo uma humanidade que viva a “fraternidade universal” e uma “casa comum” que seja permeada por um movimento de “ecologia integral”, em que todos os seus residentes vivam amorosamente entrelaçados, formando uma sinfonia toda plena de vida.

Enfim, o percurso e o legado do pontificado de Francisco é todo permeado pela graça de Deus, que em um momento difícil da Igreja, possibilitou ao Papa Bento XVI a coragem de renunciar para que a “barca de Pedro pudesse melhor navegar naquela tempestade”, e a eleição de um Papa que veio “do fim do mundo”, para dirigir a Igreja com humildade ao pedir orações ao povo, ao residir na casa  Santa Marta, ao sensibilizar-se com os sofredores desde o evento de Lampedusa (2013) até os eventos referentes aos refugiados e às vítimas das guerras. Realça-se a magna oração feita na praça de São Pedro, vazia, em tempo de início da pandemia da covi-19, em favor de todos os seres humanos, clamando piedade, inteligência e esperança. Com o seu sorriso e entusiasmo, destinado para todas as pessoas, Francisco honrou o nome de Francisco de Assis  – o poverello –,  universalizando-o em seu espírito de pobreza, deixando-nos a certeza da “alegria do evangelho”, para que formemos uma grande família cósmica que vive a “alegria do amor”, cujo coração irradia ecologicamente o amor de Deus.

Prof. Dr. Pe. Paulo Sérgio Lopes Gonçalves

Professor de Teologia Sistemática e do Programa de Ciências da Religião da PUC-Campinas.



Aurimar Miranda
23 de abril de 2025