
“Mostrinha” transforma a defesa de direitos em um espaço de diversões para crianças
A “V Mostra de Talentos Humanos – Parque dos Direitos – Mostrinha” uniu atividades lúdicas e oficina para promover o Estatuto da Criança e do Adolescente
O Espaço Tamurá da PUC-Campinas foi tomado pela energia contagiante de centenas de crianças nesta segunda-feira (09), durante a realização da “V Mostra de Talentos – Parque dos Direitos – Mostrinha”, edição voltada para o público infantil. A iniciativa, promovida pelo Programa de Desenvolvimento Humano e Integral: Levanta-te e Anda (PDHI:LA), transformou o Campus I da PUC-Campinas em um grande espaço lúdico com um objetivo claro: difundir os direitos previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) por meio de jogos, oficinas e vivências que conectaram diversão e cidadania no Espaço Tamurá.
A trilha sonora do evento foi um resgate às memórias infantis. E o lúdico se espalhou também pelos quitutes como pipoca, cachorro-quente, picolés e balas. Durante toda a manhã, crianças de comunidades parceiras, como o Campo Belo e o Jardim Itatinga, circularam por estações simultâneas, participando de atividades criadas e monitoradas por estudantes de diferentes Cursos da Universidade. A programação foi pensada para as crianças e para os educadores que as acompanhavam, que puderam contar também com um espaço de cuidado. Além de toda a programação de oficinas, o Coral da PUC-Campinas, sob regência da Maestrina Fátima Viegas, também marcou presença.
O Prof. Dr. Everton Silveira, responsável pelo PDHI:LA, contextualizou a relevância cívica da Mostrinha. “Nós temos o dever cívico, social, moral e ético de proteger aquelas pessoas que são mais violentadas pelos processos sociais que temos vivido, e as crianças e os adolescentes, nesta seara, representam um dos grupos de maior vulnerabilização social. Sofrem mais com guerras, com fome, descasos de políticas públicas e com o processo cultural que, ao longo da história, nega a existência das crianças colocando-as em uma condição de menos valia, com voz sem valor para ser ouvida ou considerada. Neste sentido, o Estatuto da Criança e do Adolescente é uma legislação que busca resgatar a possibilidade do desenvolvimento integral da criança. Defender o Estatuto é defender a possibilidade de que a criança seja criança em seu tempo, e o seu tempo é hoje”.
O Professor ainda ressaltou a importância de reacender essa consciência e repensar alternativas para a garantia dos direitos no cotidiano. “O lugar da Universidade é trabalhar com esse saber, com essa ciência, que é o conhecimento sobre a lei, e como essa lei pode ser colocada em prática para que processos de sonegação do direito sejam dirimidos. A própria criança tem que ser ouvida nesse processo o tempo todo. É cívico, é integrativo, é necessário que a criança seja ouvida, porque é sobre ela, para ela e com ela que nós vamos fazer a mudança. A criança de hoje, se viver bem, amanhã terá condições de defender seus direitos e de criar uma sociedade cada vez mais justa, fraterna e solidária”, explicou.
Para o Prof. Me. José Donizeti Aparecido de Souza, o evento tem uma dupla importância. “A Mostrinha é um espaço para que a criançada aqui na PUC-Campinas possa se expressar, crescer e se desenvolver, algo que a periferia, por conta de políticas públicas precárias, muitas vezes não oferece. Em segundo lugar, o evento aborda o Estatuto da Criança e do Adolescente. Embora essa lei exista desde 1990, ainda vemos crianças sendo vítimas de abusos e exploração infantil. Portanto, este é um momento fundamental para ensinarmos a elas, por meio do lúdico e da brincadeira, sobre os direitos que possuem. Em nossa sociedade, aprendemos a dar limites para as crianças, mas não a ensiná-las a dar limites aos adultos. É crucial que elas aprendam a impor esses limites, porque elas também têm direitos”, disse.
A Faculdade de Direito, por exemplo, traduziu a complexidade do ECA em atividades interativas. “Os estudantes tiveram muita criatividade para pensar em jogos sobre o Estatuto. Achei incrível. Nossas alunas criaram um jogo de tabuleiro, semelhante a um cubo mágico, onde as crianças encaixam os direitos por cores, e um bingo dos deveres, com brindes ao final. A resposta foi incrível; todas as crianças que participaram acharam muito divertido”, relatou a Profa. Dra. Elisângela Rodrigues de Ávila. Ela também celebrou a dinâmica do evento: “A Universidade está pulsante aqui. Temos alunos como monitores, professores coordenando as atividades e, o mais importante, as crianças vivenciando tudo isso, pois afinal é o direito delas: o direito de brincar com responsabilidade, entendendo também seus deveres. Estar fazendo isso próximo ao Natal, em clima de final de ano, torna tudo ainda mais especial. Estou muito feliz”.
O evento foi uma oportunidade para os estudantes aplicarem seus conhecimentos na prática. Wallison da Silva Souza, estudante de Enfermagem, estava no espaço destinado aos educadores, ensinando cuidados essenciais. “O Grupo de Pesquisa PET Enfermagem trouxe a oficina de primeiros socorros, abordando desde uma parada cardiorrespiratória em um paciente adulto até um paciente pediátrico. Também estamos tratando de engasgos e manobras diversas. O feedback que recebemos deles mostra o quão benéfica é essa parceria. Fica nítido como um cuidado, que pode parecer simplório, quando ensinado aqui se torna fundamental no dia a dia e na prática deles”, disse.
A estudante Ana Caroline Marques Silva, do Curso de Enfermagem, abordou a importância da representatividade com as bonecas Abayomi, no Espaço Manacás. “As Abayomi são bonecas feitas de retalhos de pano, sem cola nem costura, apenas com amarrações. Elas surgiram com Lena Martins, por volta do século XIX, como uma resposta à falta de representatividade para as crianças negras da época. É fundamental que uma criança se sinta inclusa na sociedade e representada em seus brinquedos. O ato de brincar, que é um direito garantido pelo ECA, se torna muito mais significativo quando a criança se vê no objeto da brincadeira. Afinal, quem vai gostar de brincar com algo que não te representa?”, questionou.
A Profa. Dra. Ana Paula Fraga Bolfe, Diretora da Faculdade de Ciências Sociais e Docente da Faculdade de Educação, destacou a consolidação da Curricularização da Extensão. “É de extrema relevância, porque hoje a gente consolida o trabalho de um semestre com os alunos de Curricularização da Extensão. O curso de Pedagogia está todo envolvido, em seus três ciclos de formação, aqui com oficinas. Porque durante todo o semestre discutimos o Estatuto da Criança e do Adolescente, visitamos as instituições, fizemos oficinas e hoje é o dia de receber essas crianças na nossa casa. Estamos muito felizes pela oportunidade de discutir o ECA e proporcionar esse momento aqui na PUC-Campinas, que com certeza elas levarão guardado na memória e no coração”.
A aplicação da teoria foi o ponto alto para muitos, como relatou a Profa. Dra. Ana Paula Bonilha Piccoli, do Curso de Psicologia. “Penso que é principalmente o aluno poder lançar mão da teoria e das práticas que ele desenvolveu na Universidade e fazer essa abertura para a Comunidade, poder acessar uma criança real numa situação real de brincadeira. Isso amplia muito para o aluno a visão que ele tem de todas as áreas que está estudando. Fazer esse diálogo, eu acho que é primordial para o aluno em formação”, concluiu.
A estudante do Curso de Pedagogia Ana Beatriz Biasotto Simão reforçou a importância do acesso à informação. “É muito interessante trazer as crianças para cá, pois muitas não têm a oportunidade de acessar universidades, e a PUC-Campinas é um espaço grande que pode lhes proporcionar cultura. Além disso, estamos trabalhando o ECA, um direito ao qual muitas delas não têm acesso. Nosso objetivo é que elas entendam que possuem direitos garantidos por lei. Para fazer isso de forma dinâmica, estamos usando o teatro e a mímica: um time tira um papel com um direito e precisa encená-lo para o outro time adivinhar qual é”, explicou.
Já a estudante de Psicologia, Giovanna Rodrigues Favaro Lima, falou sobre o jogo que seu grupo desenvolveu. “Nos baseamos em um jogo que estimulasse a memória e a atenção das crianças. Criamos um tabuleiro onde as crianças fazem mímicas e respondem a perguntas gerais para exercitar o conhecimento. É um jogo com elementos de sorte e azar, carta coringa, tudo pensado para que elas consigam ser autônomas na brincadeira. A Mostrinha é essencial para apresentar o jogo que criamos e mostrar como ele pode ser explorado em outras áreas. Eu particularmente gostaria de trabalhar com a área infantil então, para mim, é muito importante ver como seria trabalhar com jogos, com diferentes personalidades. Ter essa experiência para colocarmos na prática o conhecimento”, finalizou.
O evento, que encerrou com um grande lanche coletivo, reafirmou o papel da Universidade como um espaço aberto, vibrante e comprometido com a transformação social, mostrando que a defesa de direitos pode, e deve, ser também um ato de alegria e celebração.




