
Centro Pop II é palco da IV Mostra de Talentos Humanos da PUC-Campinas
Em dia de escuta e acolhimento, iniciativa fortaleceu vínculos e deu protagonismo à população em situação de rua por meio da arte e da cidadania
O Centro Pop II de Campinas, que atende mensalmente entre 850 e 1000 pessoas em situação de rua, foi o cenário de um encontro potente de solidariedade e expressão nesta terça-feira (25). A PUC-Campinas, por meio de seu Programa de Desenvolvimento Humano e Integral (PDHI:LA), realizou a IV Mostra de Talentos Humanos, com o tema “Conexões que Transformam”. O evento transformou o espaço em um vibrante centro de arte, cultura, serviços e acolhimento, promovendo dignidade, fortalecendo vínculos e revelando os saberes e talentos da população atendida.
A proposta da Mostra transcendeu os muros da Universidade para ir ao encontro da Comunidade, criando um espaço seguro de troca e reconhecimento mútuo. A programação, cuidadosamente elaborada em conjunto, ofereceu não apenas assistência, mas, principalmente, protagonismo. Desde a recepção inicial, com música e café, até o encerramento, cada momento foi pensado para celebrar a vida e a resiliência.
Ao longo do dia, os participantes tiveram acesso a seis estações temáticas que funcionaram simultaneamente. Houve espaços dedicados à criação artística (pintura, grafite, mosaico), à cultura e arte (música, poesia, fotografia social), à orientação sobre direitos e cidadania (documentos, acesso a serviços), ao corpo e movimento (jogos cooperativos, atividades expressivas), à escuta qualificada e acolhimento espiritual, e um espaço aberto para talentos livres, onde a voz e a espontaneidade de cada um puderam brilhar.
Para o Prof. Dr. Everton Silveira, responsável pelo PDHI:LA, a iniciativa tem como foco central a escuta ativa. “O nosso objetivo é aprofundar o diálogo com as pessoas que vivem em situação de rua. Quando a Universidade se volta para esta população, torna-se fundamental e ético pensar em um trabalho pautado na demanda delas. Para compreendermos essas necessidades, precisamos de interações, ouvi-las de fato, e não imaginar o que precisam, pois isso seria um processo de colonização. Queremos criar processos de libertação. O Programa, com este olhar cuidadoso, busca, por meio da convivência, das oficinas e dos espaços de diálogo, nos aproximar cada vez mais das pessoas e escutar o que está sendo dito por elas”, explicou.
Um dos pontos altos do evento foi o almoço comunitário, servido em mesas integradas onde usuários do serviço, estudantes, professores e profissionais compartilharam a refeição, fortalecendo a ideia de uma Comunidade unida e sem barreiras. À tarde, as oficinas continuaram, com a criação de um mural coletivo que simbolizou as conexões construídas durante o dia.
Cidinha Régis, Coordenadora do Centro Pop Campinas, celebrou a parceria como um passo fundamental. “Trazer a Universidade para dentro do Centro Pop é um avanço muito grande. Nossa população em situação de rua é um grupo muito complexo e heterogêneo; temos desde pessoas com mestrado e doutorado até analfabetas. Quando aproximamos a Universidade desta unidade, oferecemos a eles não só o acesso a todo o atendimento que a PUC-Campinas trouxe hoje, mas também a possibilidade de entenderem que podem, sim, voltar a estudar e, quem sabe, um dia estar aqui oferecendo esse atendimento para outros”, destacou.
A diversidade de atividades refletiu a colaboração entre diferentes áreas da Universidade. A Profa. Dra. Tatiana Slonczewski, docente da Faculdade de Psicologia, explicou a abordagem de sua equipe: “A importância para nós é dialogar sempre, saber o que fazer a partir da escuta de quem está vivendo o dia a dia nesta situação. Da Psicologia e Saúde Mental, trouxemos um espaço de diálogo para montar um baralho de conversa, abordando questões que eles gostariam de dialogar. Com a ‘Alma Lavada’, representantes do Campo Belo apresentaram a ideia de um sabão sustentável, conectando com o espaço de lavar roupas que existe aqui e promovendo um espaço de convívio e troca junto à produção dos saneantes”.
A estudante do Curso de Enfermagem, Ana Laura Bessa, falou sobre sua experiência. “Esses projetos da ‘Universidade em Saída’ me colocam em lugares que eu nunca imaginei estar. A Enfermagem me proporciona viver situações incríveis, como visitar a penitenciária feminina e atuar aqui no Centro Pop. Vemos realidades muito diferentes do que a nossa vida nos mostrava, e isso é extremamente enriquecedor para o profissional e para a pessoa que estamos nos tornando. Aprendemos na prática que a Enfermagem é isso: improvisar, encontrar uma solução para tudo. Tem sido uma experiência incrível, e sem a PUC-Campinas e suas parcerias, não estaríamos vivendo nada disso.”

