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Cartografia das Ausências: projeto inédito elabora mapas sociais com foco nas ausências e na invisibilidade urbana

Iniciativa inserida no PDHI:LA que une Universidade e SOS Rua busca dar voz aos profissionais que lidam diretamente com as pessoas em situação de rua em Campinas

Em uma iniciativa que redefine a forma de olhar para a cidade e suas realidades mais vulneráveis, a PUC-Campinas, por meio de seu Projeto de Extensão “Entre Ruas”, está desenvolvendo a “Cartografia das Ausências”. Longe de ser um mapa convencional, este trabalho busca revelar o que a cartografia oficial não mostra, uma vez que parte da percepção de quem atua nas ruas da cidade na linha de frente realizando a abordagem da população em situação de rua de Campinas.

A iniciativa está inserida no projeto mais amplo “Entre Ruas”, ligado ao Programa de Desenvolvimento Humano e Integral: Levante-te e Anda (PDHI:LA) da PUC-Campinas. Além da docente diretamente envolvida, sete estudantes da Universidade compõem a equipe, que conta com a parceria do SOS Rua – Serviço especializado em abordagem social adulto, resultado de um programa de parceria entre a Associação Cornélia Vlieg e a Secretaria Municipal de Assistência Social. Seu objetivo principal é diagnosticar, junto aos profissionais que atuam com a população em situação de rua, como percebem e compreendem a rua não apenas como uma materialidade urbana, mas como um espaço de vida para centenas de pessoas.

A iniciativa ‘Cartografia das Ausências” está inserida no projeto mais amplo “Entre Ruas”, ligado ao Programa de Desenvolvimento Humano e Integral: Levante-te e Anda (PDHI:LA) da PUC-Campinas. Sete estudantes da Universidade compõem a equipe, que conta com a parceria do SOS Rua – serviço especializado em abordagem social adulto, resultado de um programa de parceria entre a Associação Cornélia Vlieg e a Secretaria Municipal de Assistência Social. O seu objetivo principal é diagnosticar, junto aos profissionais que atuam com a população em situação de rua, como percebem e compreendem a rua não apenas como uma materialidade urbana, mas como um espaço de vida para centenas de pessoas.

A Profa. Dra. Vera Placido, Gerente de Extensão da PUC-Campinas e docente extensionista responsável pela iniciativa na Universidade, traz a reflexão: “Sabemos que as ruas são mais que objetos urbanos. Elas possuem forma e função muito bem definidas nas cidades, especialmente naquelas mais desenvolvidas, como é o caso de Campinas. Mas, para além da sua função de mobilidade pela cidade, como caracterizá-la como espaço de vida para milhares de pessoas que dela dependem? Esta é a questão chave que nos mobiliza nesse projeto porque acreditamos que diferentes formas de perceber e compreender uma cidade são fundamentais para a garantia do Direito à Cidade, além do fato de que dados primários advindos de diferentes perspectivas são alicerces importantes para Políticas Públicas eficazes”.

Processo dialógico: dando voz ao invisível
A metodologia do projeto “Cartografia das Ausências” é, em sua essência, dialógica. Enquanto a cartografia oficial é um trabalho técnico e metódico, essencial para a gestão pública e privada, ela nem sempre captura as nuances e complexidades da vida social na microescala. É aí que entra a Cartografia Social. “O que se defende é que, aliada à cartografia oficial, são necessárias outras formas de se entender a espacialidade nas cidades, especialmente as que são organizadas e produzidas por muitos grupos sociais. A Cartografia Social é uma metodologia que, através de uma escuta cuidadosa e coletiva, elabora mapas e diversas representações espaciais apontando demandas, potencialidades, impactos e outros temas eleitos como relevantes pelos diferentes participantes. É considerada por muitos pesquisadores como uma tecnologia social que se assenta na percepção coletiva do grupo e no que eles elegem como prioridade, considerando suas relações com os lugares. Do ponto de vista metodológico, toda cartografia social se inicia com um mapa mudo e termina com um mapeamento coletivo que dá voz àqueles que, na maioria das vezes, nem aparecem em dados oficiais”, explicou.

A metodologia utilizada parte do pressuposto que todos os presentes possuem experiências, vivências e relações com os lugares sendo, portanto, parte de sua formação, organização e produção. “O local é a localização, pura e abstrata, para muitos, na sua relação com o mapa; o lugar, muito mais complexo, envolve as relações estabelecidas, os limites percebidos, os conflitos presentes, a afetividade, o sentimento de pertença ou não. Desta forma, a escuta atenta do grupo social participante da cartografia social parte da identidade do grupo com o lugar mapeado: O que ele significa? Quais as suas potências? O que é necessário manter? Que mudanças desejamos? A partir dessas questões inicia-se o processo de mapeamento e, a cada mapa produzido, realiza-se validações. O mapa final é aquela representação em que todo o coletivo se enxerga e, a partir daí, o mesmo coletivo definirá as perspectivas futuras com a representação espacial que os representa”, explicou a Profa. Dra. Vera Placido.

A junção das “cartografias” com dados quanti e qualitativos é primordial para a territorialização de políticas públicas e a conquista de Direitos.  “Na temática rua, por exemplo, diferentes cartografias nos possibilitarão enxergar nuances próprias e específicas e, a partir daí, diferentes setores da sociedade poderão agir no sentido de melhor acolher as necessidades, ao mesmo tempo, garantir que os espaços públicos exerçam o seu papel e função”.

O nome “Cartografia das Ausências”: parceria com o SOS Rua
No início, os profissionais se propuseram a elaborar uma Cartografia da Violência como maneira de representar as diversas dimensões da vulnerabilização em que se encontra a população em situação de rua de Campinas.

Porém, após o início do mapeamento, identificaram que a “violência”, na verdade, se materializa, por vezes, em ausências que implicam em maiores desafios para uma população marginalizada e excluída. O nome, que ressoa com força e profundidade, partiu dessa experiência vivida pelos profissionais nas oficinas. “Quando comecei a levar essa discussão, sobre o que está invisível nas ruas, para o SOS Rua, os técnicos refletiram: mas se é uma cartografia que não está presente, então é uma Cartografia das Ausências. O nome partiu da própria consciência daqueles que trabalham nesta perspectiva da invisibilidade”, contou a Professora.

“A participação do SOS Rua é fundamental para o projeto, pois eles estão em uma linha de frente direta com a população em situação de rua. Esse ‘estar na rua’ diário oferece dados primários cruciais para diagnosticar este ambiente de vida. Embora reconheçamos que ninguém deva morar na rua, é vital reconhecer que essa realidade existe. Saber que as ausências mapeadas impedem esta população de se sentir parte da cidade, de buscar ajuda adequada e de romper com os ciclos de violência a que estão submetidas, é um passo decisivo para construirmos outras bases para uma vida digna na cidade”.

Impacto da Extensão e o Futuro da Cartografia das Ausências
A “Cartografia das Ausências” tem um potencial imenso ao contribuir para a efetivação do “Direito à Cidade”. Ao produzirem mapas que são “mais que localizações, são representações espaciais do lugar”, os grupos sociais se posicionam e suas demandas e potencialidades são explicitadas. “É interessante perceber como os mapas, nesse caso, se tornam autorais por eles próprios. E, ao se verem nessas representações criadas por eles mesmos, se interessam pelas políticas públicas e outras iniciativas dos diferentes setores da sociedade, mudando o olhar sobre o lugar habitado”, destacou a Profa. Dra. Vera Placido.

Este projeto, assim como outros, personifica a essência da Extensão da PUC-Campinas como movimento e permanência. “O movimento, para a Extensão, está sempre no processo metodológico, na aproximação dos saberes, no diálogo estabelecido, na escuta ativa e qualificada junto aos nossos parceiros, grupos sociais e comunidades. Já a permanência é percebida nos produtos gerados, no conhecimento que se consubstancia a partir desse movimento; a permanência é o impacto que se dá em diferentes vias – na formação dos nossos alunos, no aprimoramento constante dos docentes envolvidos, na aprendizagem coletiva e em conjunto com os nossos parceiros e comunidades”.

O aprendizado em todo o processo é vasto e contribui ativamente para uma formação integral, cuidadosa e ética, uma vez que possibilita que os estudantes aliem teoria, prática e empiria, compondo o arcabouço de sua própria formação de modo interrelacionado. Os planos futuros para a “Cartografia das Ausências”, que objetiva contribuir para uma cidade mais justa e inclusiva, envolvem a elaboração de um Atlas com as representações produzidas com os profissionais do SOS-Rua, bem como a promoção de exposições, debates e discussões para compartilhar este trabalho inédito na cidade de Campinas com a comunidade acadêmica e o público interessado na temática, de maneira geral.



Daniel Bertagnoli
12 de agosto de 2025