
Auditório Monsenhor Salim recebe evento sobre saúde bucal voltada à população negra
“A Força de Um Sorriso” acontece via parceria entre a Faculdade de Odontologia e o CEAAB
O Auditório Monsenhor Salim, localizado no Campus II da PUC-Campinas, recebeu, no último dia 12 de setembro, o evento “A Força de Um Sorriso: Elevando a Autoestima das Pessoas Negras”.
O projeto, desenvolvido através de uma parceria entre a Faculdade de Odontologia e o Centro de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros “Dra. Nicéa Quintino Amauro” (CEAAB), tem como objetivo principal a valorização da identidade e da imagem das pessoas negras, com a promoção de seu amor-próprio, de sua aceitação e de sua autoestima. Além disso, ele visa oferecer voz e espaço para que a mulher e o homem negros sejam reconhecidos em sua plenitude e humanidade.

A palestra de abertura, ocorrida on-line, ficou por conta da mestre em Prótese Dentária pela Universidade de São Paulo (USP) e especialista em Odontogeriatria pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO), professora Tânia Lacerda, que tratou do legado do professor Tomaz Gomes, desenvolvedor de uma técnica que procura imitar na prótese dentária as nuances de cor que existem em uma gengiva natural.
A apresentação, que ficou a cargo da diretora da Faculdade de Odontologia, Profa. Dra. Solimar Maria Ganzarolli Splendore, teve como membros de sua mesa diretora, a coordenadora do CEAAB, Comendadora Edna Almeida Lourenço; o decano da Escola de Ciências da Vida (ECV), Prof. Dr. José Gonzaga de Teixeira Camargo; a vereadora campineira Paolla Miguel; o diretor de Relações Cooperativas da Uniodonto Campinas, Me. André Fizzei Zeferino; e a diretora do Departamento de Odontologia da Prefeitura Municipal de Valinhos, Dra. Nayene Leocádia Manzutti Eid.
Palestra de abertura e apresentação do projeto
A palestra de abertura, ocorrida on-line, ficou por conta da mestre em Prótese Dentária pela Universidade de São Paulo (USP) e especialista em Odontogeriatria pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO), professora Tânia Lacerda, que tratou do legado do professor Tomaz Gomes, desenvolvedor de uma técnica que procura imitar na prótese dentária as nuances de cor que existem em uma gengiva natural e cujo objetivo é criar a transição mais orgânica possível entre a gengiva do paciente e a gengiva da prótese, mostrando a importância deste tipo de caracterização e personalização para cada pessoa.

Da esquerda para a direita, as alunas Tainá Rodrigues Lima e Karla de Oliveira, a paciente Sandra, e os alunos Luigi Benjamin Brugnaro e Gabriele Rodrigues da Silva, após a apresentação do trabalho de curricularização da extensão desenvolvido ao longo do primeiro semestre deste ano por toda a turma do atual 8º período.
Logo depois, Gabriele Rodrigues da Silva, Karla de Oliveira, Tainá Rodrigues Lima e Luigi Benjamin Brugnaro, estudantes do oitavo período do curso de Odontologia, apresentaram o trabalho de curricularização da extensão desenvolvido ao longo do primeiro semestre deste ano por toda a turma do atual 8º período (à época, 7º) com duas pacientes que foram atendidas na Clínica-Escola de Odontologia da PUC-Campinas – sendo que uma delas, Sandra, colaboradora do Departamento de Serviços Gerais, emocionada, assistiu à apresentação – e trataram sobre o processo de reabilitação de ambas e de como elas ficaram após o término do tratamento. Além disso, eles falaram sobre como isso mudou a vida de ambas as mulheres, em especial naquilo que se refere a autoestima, a segurança para falar, a mastigação e diversos outros aspectos. Neste semestre, como o número de pacientes aumentou para doze, eles finalizaram a apresentação falando sobre o que será realizado a partir de agora.
De acordo com a aluna Gabriele, o trabalho “tem sido muito importante para que a gente possa devolver, de forma individualizada e caracterizada às gengivas dos pacientes, as próteses que nós realizamos, reabilitando-os e respeitando a sua anatomia enquanto pessoas negras”.

De acordo com a diretora da Faculdade de Odontologia da PUC-Campinas, Profa. Dra. Solimar Maria Ganzarolli Splendore, a prótese dentária com gengiva rosa, comumente utilizada, “não traz identidade nenhuma às pessoas negras, esteticamente falando… então, essa caracterização que nós fazemos já há um bom tempo é para poder devolver ao paciente a estética, a autoestima e a identidade dele”.
Devolvendo a identidade ao paciente
De acordo com a diretora da Faculdade de Odontologia da PUC-Campinas, Profa. Dra. Solimar Maria Ganzarolli Splendore, os alunos e alunas envolvidos com o projeto “realizaram atendimentos a pacientes negros se utilizando de uma técnica com a qual nós já trabalhamos na Faculdade de Odontologia que é o Sistema Tomaz Gomes (STG), que insere nas próteses dentárias uma série de resinas de diferentes cores para imitar a gengiva real do paciente, trazendo mais realismo, naturalidade e aceitação a elas, porque aquela prótese rosa, comumente utilizada, não traz identidade nenhuma às pessoas negras, esteticamente falando. Fica muito artificial. Então, essa caracterização que nós fazemos já há um bom tempo é para poder devolver ao paciente a estética, a autoestima e a identidade dele. A doutora Tânia, por exemplo, que já trabalha com isso há muito tempo e é uma expert no assunto, foi convidada a palestrar durante o evento”.
Ela continua dizendo que o “A Força de Um Sorriso” faz parte de um projeto de extensão ainda maior, realizado através de uma parceria do CEAAB com a Escola de Ciências da Vida (ECV), chamado “A Cor da Desigualdade: Atenção Especial Integral à Saúde da População Negra”, que tem como foco a conscientização sobre as desigualdades no acesso e atendimento à saúde da população negra no Brasil. Além do CEAAB e da ECV, representando a PUC-Campinas, a Prefeitura Municipal de Campinas e o Ministério Público Estadual também fazem parte da ação. O projeto conta ainda com o apoio e parceria da empresa Dentsply Sirona, uma das maiores fabricantes de materiais e equipamentos odontológicos do mundo.
“Todas as atividades desenvolvidas dentro do projeto fazem parte de um contexto antirracista, de equidade social, que está dentro da missão da PUC-Campinas e a ideia é apresentar o trabalho que a gente faz de acolhimento a todos os pacientes, sejam eles quem forem e contra toda a indiferença que existe na humanidade”, ressalta a professora Solimar.

A coordenadora do Centro de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros “Dra. Nicéa Quintino Amauro” (CEAAB), Comendadora Edna Almeida Lourenço, lembra que o “A Força de Um Sorriso” é “uma somatória de coisas maravilhosas, de ações. É um combo. E isso só faz com que nós possamos, principalmente, valorizar o compromisso da ECV com ‘A Cor da Desigualdade’, que visa a atenção integral à saúde da população negra”.
Autoestima elevada através do sorriso
A coordenadora do Centro de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros “Dra. Nicéa Quintino Amauro” (CEAAB), Comendadora Edna Almeida Lourenço, lembra que o “A Força de Um Sorriso” é fruto do programa “A Cor da Desigualdade” e que “nós do CEAAB, fomos convidados pela professora Solimar e pelo professor Gonzaga (decano da Escola de Ciências da Vida – ECV) para que nos fossem apresentadas as próteses dentárias desenvolvidas pelos alunos e alunas a partir do Sistema Tomaz Gomes e nós ficamos muito alegres”.
“Nós pudemos também conhecer a Sandra, uma das pacientes atendidas, e foi um momento de muita emoção, porque quando ela viu a mim e a professora Waleska (Miguel Batista, integrante do CEAAB e ex-coordenadora do Centro) entrando na sala, duas mulheres negras, e ela como uma mulher negra, trabalhadora daqui e que havia acabado de realizar esse sonho, de ter a autoestima elevada através do sorriso, nós perguntamos: ‘Por que você está chorando?’ e ela nos disse: ‘porque se vocês duas conseguiram, eu também vou conseguir. Agora eu vou estudar’. Então, é uma somatória de coisas maravilhosas, de ações. É um combo. E isso só faz com que nós possamos, principalmente, valorizar o compromisso da ECV com ‘A Cor da Desigualdade’, que visa a atenção integral à saúde da população negra”, comenta a Comendadora.

O decano da Escola de Ciências da Vida (ECV), Prof. Dr. José Gonzaga de Teixeira Camargo, explica que o tema tratado é “tão importante, que a gente não pode só deixar ele emergir, mas também mantê-lo sempre em evidência”.
Ela continua dizendo que, agora, “negros e negras têm a oportunidade de serem atendidos com dignidade. A professora Solimar, nos falou, inclusive, durante a sua explanação, sobre uma senhora que chegou aqui (na Clínica-Escola de Odontologia da PUC-Campinas) e não queria mais fazer a cirurgia agendada, porque ela lembrou do que havia sofrido em outro lugar, quando teve a extração de seus dentes realizada sem anestesia. Então, olha como nós avançamos. Ela chega aqui agora e percebe que o atendimento é outro. É um atendimento digno ao povo negro. É isso que nós buscamos nesse projeto, a autoestima elevada através do sorriso, com a utilização da prótese black, da qual nós falamos com tanto orgulho. As ações realizadas junto à ECV mostram o compromisso e a responsabilidade de se fazer a diferença. Eu sempre digo que nós, negros, somos diferentes, nossa pele é diferente, mas nós queremos ser tratados de forma igual e é isso o que foi apresentado aqui hoje”.
Mantendo o assunto em evidência
O decano da Escola de Ciências da Vida (ECV), Prof. Dr. José Gonzaga de Teixeira Camargo, explica que o tema tratado é “tão importante, que a gente não pode só deixar ele emergir, mas também mantê-lo sempre em evidência. Na ECV, a questão dos cuidados voltados à saúde da população negra se espalhou por todos os cursos, e com o surgimento de diversas ações nessa área, em breve, eu acredito que ‘A Cor da Desigualdade’ poderá até tornar-se um evento científico especialmente voltado a discussão dessas questões que são fundamentais em um país como o nosso”.
- O diretor de Relações Cooperativas da Uniodonto Campinas, André Fizzei Zeferino, diz que a realização do evento foi “um momento bastante inspirador por parte da Faculdade de Odontologia da PUC-Campinas” por “trazer à tona essa discussão sobre a autoestima do sorriso”, inclusive no sentido de corrigir o assédio sofrido no passado pela população negra na área da protética.
- A vereadora campineira Paolla Miguel ressalta que “é revolucionário a gente poder pensar em próteses dentárias (voltadas às) pessoas negras” e que “isso é sobre autoestima, sim, mas também é sobre qualidade de vida” e “sobre conseguir modificar a realidade de alguém que sequer podia imaginar que uma prótese dentária poderia mudar tanta coisa para melhor em sua vida”.
O professor Gonzaga comenta ainda que existe um mito de que “todos somos biologicamente iguais e, por isso mesmo, acabamos importando muitos protocolos do exterior enquanto que o brasileiro tem uma genética única e a nossa miscigenação é algo muito próprio nosso e isso precisa ser individualizado. Então, a partir do momento que a gente se assume diferente, que tem de ter um tratamento individualizado e acesso a todos, nós conseguimos realizá-lo de maneira mais adequada e podemos destinar mais assertivamente os recursos existentes, pois quanto antes pudermos prevenir e tratar uma enfermidade, melhor. Sem contar que podemos cobrar a indústria farmacêutica para a realização de novos medicamentos, voltados às populações específicas”.

A diretora do Departamento de Odontologia da Prefeitura Municipal de Valinhos, Dra. Nayene Leocádia Manzutti Eid, comenta que o “A Força de um Sorriso” mostra que “a odontologia, a saúde bucal, além dos cuidados clínicos, também propicia a valorização, a dignidade, a transformação e o ensejo na vida social”.
Assédio sobre a população negra
O diretor de Relações Cooperativas da Uniodonto Campinas, André Fizzei Zeferino, diz que a realização do evento foi “um momento bastante inspirador por parte da Faculdade de Odontologia da PUC-Campinas, porque, realmente, em outros momentos, inclusive na área da protética, houve uma espécie de assédio sobre a população negra e, por isso mesmo, trazer à tona essa discussão sobre a autoestima do sorriso é de extrema relevância. Por isso mesmo, nós da Uniodonto, estivemos aqui para prestigiar esta ação e podermos debater este tema”.
A diretora do Departamento de Odontologia da Prefeitura Municipal de Valinhos, Dra. Nayene Leocádia Manzutti Eid, por sua vez, comenta que a iniciativa promovida pela PUC-Campinas é muito importante e que o “A Força de um Sorriso” mostra que “a odontologia, a saúde bucal, além dos cuidados clínicos, também propicia a valorização, a dignidade, a transformação e o ensejo na vida social”.
Transpassando os muros da Universidade
A vereadora campineira Paolla Miguel ressalta que “é revolucionário a gente poder pensar em próteses dentárias para as pessoas negras. No passado, elas eram muito rosas e, por conta disso, eram facilmente identificáveis por todos em uma pessoa negra, o que lhe gerava um grande constrangimento”.
“Nós sabemos que a prótese dentária não é só uma questão de autoestima, mas a garantia de que você pode sorrir e se divertir. Além disso, existe a questão da alimentação e muitas pessoas se recusavam a utilizar próteses para poder comer em virtude do constrangimento de outras pessoas virem a saber que elas usavam uma dentadura. Então, isso é sobre autoestima, sim, mas também é sobre qualidade de vida, é sobre conseguir modificar a realidade de alguém que sequer podia imaginar que uma prótese dentária poderia mudar tanta coisa para melhor em sua vida. A PUC-Campinas, sem dúvida nenhuma, consegue transpassar os muros da Universidade ao apresentar projetos como esse”, encerra a vereadora.



