
Maravilha Juventude: projeto de Extensão une dados, escuta e esperança para potencializar futuros na região no Campo Belo
Iniciativa partiu de estudo do Observatório PUC-Campinas e tem foco na educação e empregabilidade
Inspirada em uma canção do grupo musical 14 Bis que marcou gerações e fundamentada em um diagnóstico preciso do Observatório PUC-Campinas, a iniciativa da Extensão Universitária da PUC-Campinas, “Maravilha Juventude”, vai muito além da assistência social e aposta no desenvolvimento humano integral como ferramenta de transformação social. A iniciativa é uma ação estratégica que busca criar condições para que jovens de territórios vulnerabilizados possam se desenvolver, tornando-se, de fato, “maravilhas”.
O projeto, liderado pelo Prof. Dr. Pe. José Antonio Boareto, não nasceu de um impulso, mas de um chamado embasado em dados. Um mapeamento realizado pelo Observatório PUC-Campinas, por meio do Índice de Vulnerabilidade Social Municipal (IVSM), revelou uma realidade alarmante: 1,2 milhão de habitantes, isto é, 37% da população da Região Metropolitana de Campinas, concentra metade da população em extrema pobreza, um percentual que salta para 53% quando se considera a faixa etária de 18 a 24 anos. E a localização desta população mais vulnerabilizada é a Região do Campo Belo. Diante desse mapa, a Universidade entendeu que seu papel era agir.
Da escuta ativa à ação concreta
O projeto partiu para o território não com respostas prontas, mas com uma metodologia de escuta sensível. “Através do projeto de Extensão, fomos propondo experiências de escuta ativa e outras dinâmicas de grupo para ir compreendendo as necessidades reais dos jovens”, explicou O Prof. Dr. Pe. José Antonio Boareto. Desse diálogo emergiram as angústias mais urgentes, que convergiam para dois eixos centrais: educação e empregabilidade.
A partir desse diagnóstico participativo, a ação tomou forma. Foram criadas oficinas práticas para que os jovens pudessem descobrir suas múltiplas inteligências e aptidões por meio de testes vocacionais. Em outra frente, foram oferecidas oficinas de ingresso ao mercado de trabalho, com capacitação sobre como usar aplicativos de emprego, otimizar a busca de informações nas redes e, crucialmente, como se preparar para uma entrevista. Cada oficina serviu como um passo concreto e, ao mesmo tempo, como uma ferramenta para aprofundar a compreensão da realidade local.
Impacto duplo: estudantes na prática
A experiência do “Maravilha Juventude” é uma troca enriquecedora. Enquanto oferece ferramentas para os jovens da comunidade, ela transforma profundamente os estudantes de graduação e mestrado da PUC-Campinas envolvidos no projeto. Eles aprendem, na prática, a articular teoria e prática, e são confrontados com as raízes estruturais da desigualdade. “Eles começam a compreender que a dificuldade para o acesso ao direito à educação e mesmo ao trabalho se dá por uma desigualdade social que antes é racial”, refletiu o Professor.
A estudante de Mestrado em Ciências da Religião da PUC-Campinas, Ana Cláudia, Ferretti Capovilla, está no projeto desde o início no ano passado. E, para ela, integrar-se à iniciativa proporcionou uma experiência integral. “Esse projeto representa para mim um espaço de aprendizado, compromisso social e crescimento pessoal, onde posso ampliar meu conhecimento acadêmico e uni-lo à vivência comunitária. Ao criar atividades com uma equipe diversa e dialogar com as pessoas do território, percebi que a escuta e a participação são essenciais para transformar a teoria em prática de forma efetiva. Nesse processo, há uma troca valiosa, em que tanto nós quanto a comunidade crescemos e nos fortalecemos. Assim, o “Maravilha Juventude” é a prova de que a transformação social só é possível quando construída de maneira conjunta. Isso significa não apenas atuar junto à comunidade, mas também ser parte dela”, concluiu a estudante.
Para Pamela Rodrigues Pinto, estudante do Curso de Ciências Sociais, a iniciativa também ampliou a compreensão de realidades. “Participar deste projeto transformou minha forma de compreender a juventude e o papel dos projetos sociais. Vivenciar o método ver-julgar-agir na prática ampliou minhas percepções e me mostrou, de maneira concreta, o poder da educação e da ação coletiva na construção de novas realidades. O projeto com a juventude do Padre Boareto me trouxe uma certeza de que os projetos de Extensão são bem mais do que teorias”, afirmou. Ana Júlia Guedes, estudante do Curso de Engenharia Mecânica também comentou: “Participar do projeto ‘Maravilha Juventude’ contribuiu para meu desenvolvimento pessoal e foi um processo de bastante aprendizado”.
Essa jornada de aprendizado mútuo se materializa em ações como a parceria com a Profa. Dra. Betânia Hoss Lunelli, do Programa de Pós-Graduação em Sistemas de Infraestrutura Urbana. Juntos, eles levaram alunos da Escola Professor Paul Eugene Charbonneau para uma atividade na CAVE da PUC-Campinas durante a Semana Laudato Si’, em um projeto de educação ambiental que visa mostrar a ciência como meio para a transformação do próprio território. “Trata-se de um projeto de educação ambiental e sustentabilidade, em que os alunos descobrem a importância da ciência como um meio para a transformação social, sobretudo, favorecendo o desenvolvimento do próprio território, a partir das ações que possam trazer benefícios para eles, como por exemplo, produzirem sua própria horta e ou mesmo sua fonte de energia com custo baixo a partir de resíduos”, explicou o Prof. Dr. Pe. José Antonio Boareto.
A missão da Universidade em Saída
Para o Prof. Dr. Pe. José Antonio Boareto, o projeto é a personificação da missão mais profunda da Extensão Universitária, que é colocar-se a serviço da comunidade, especialmente dos mais fragilizados. “O serviço cristão da Universidade compreende-se na Extensão, que coloca-se em saída, isto é, justamente ir às periferias existenciais, as periferias concretas, e “primeirar”, como dizia o saudoso Papa Francisco, iniciar processos, sobretudo, cuidando dos mais frágeis, e neste sentido, este projeto personifica a missão da Universidade, quando busca o desenvolvimento humano integral das juventudes, isto é, oferecendo condições para a realização dos jovens em situação de vulnerabilidade social”, afirmou.
Esse compromisso alimenta o sonho que é o motor do projeto, uma visão de futuro que vai além dos limites do Campus. “Sonho em ver essa juventude ingressando em nossa Universidade, em outras universidades, tendo oportunidades, entrando no mercado de trabalho, vivendo com dignidade, e favorecendo o desenvolvimento humano integral de outros também, sendo uma maravilha de juventude humana, integral e solidária”.
No fim, o nome “Maravilha Juventude” revela seu duplo sentido. Trata-se de oferecer condições para cada jovem “tornar-se uma maravilha”, desenvolvendo seu potencial, para que possa, então, “ser uma maravilha” para o mundo, atuando de forma solidária em prol do bem comum.

